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Finanças: O ritmo (de festa) do Pós-Covid

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Recuperação lá fora dita o curto prazo dos mercados

Pós-pandemia

Mercados globais parecem ter, oficialmente, entrado no modo pós-pandemia. Diante de indicadores positivos e perspectivas de uma eventual recuperação da atividade em ritmo mais rápido que o inicialmente esperado, clima é de risk on na maioria das praças.

Madrugada foi positiva na Ásia. Na Europa, bons ares à espera de semana importante no front político-econômico, com audiência de Lagarde no Parlamento Europeu hoje e, na quinta-feira, discussões interministeriais sobre o pacote econômico de recuperação. Em NY, futuros ainda repercutem os dados surpreendentes de emprego conhecidos ao final da última semana. A mensagem é: o rally continua.

Com apetite por risco transbordando para outras jurisdições, mercados emergentes tiveram a melhor semana em quatro anos:

A despeito de nossas questões internas, entramos junto na brincadeira. Que seja eterno enquanto dure.

Da subnotificação à super-recuperação?

Dados de desemprego estadunidenses divulgados na semana passada surpreenderam — e muito. Enquanto o consenso de mercado imaginava o indicador atingindo perto de 20 por cento (contra os 14,7 da última divulgação), surpresa: 13,3 foi a marca de Maio.

Súbita recuperação econômica na esteira da reabertura pós-pandemia? Devagar com o andor, pois o "santo é de barro": o próprio Labour Department ressalta que os dados (tal qual os divulgados no mês passado) têm problemas de consistência metodológica, diretamente decorrentes de dificuldades operacionais impostas pela noite mais escura da Covid-19.

O primeiro problema estaria na classificação de empregados sob layoff temporário, anteriormente classificados como empregados — quando, pela metodologia usual, deveriam ter sido apontados como desempregados. Como resultado, taxas de desemprego dos meses anteriores deveriam ter sido maiores do que as divulgadas.

O segundo estaria no número de respostas às consultas sobre a geração/destruição de postos de trabalho — que, em razão da pandemia, foi substancialmente inferior ao usual. Com o início da normalização das coisas por lá, a confiabilidade do dado volta a aumentar.

Conclusão: não somente em casos de Covid-19 pode haver problemas de subnotificação.

O que me intriga, porém, é a sugestão de que números reais seriam piores do que os efetivamente reportados — o que se traduz, portanto, em uma melhora ainda mais expressiva do que a aparente agora. Se assim for, tanta mais razão há para revisões positivas nas expectativas por agora.

Mas vale ter um olho aberto para potenciais revisões de dados nas próximas divulgações. O que, a depender do caso, pode se traduzir em algum sacolejo adicional nas expectativas.

Um novo alfabeto para os tupiniquins

Ao longo das últimas semanas, têm sido intenso mundo afora o debate acerca da forma da retomada econômica.

Há os que defendem o “U”; há os partidários do “V”; obstáculos ao longo do caminho podem trazer o “W”, que denota uma trajetória mais instável. Os mais pessimistas veem no “L” uma perda permanente de capacidade nas economias.

Enquanto, mundo afora, os otimistas parecem ganhar espaço no debate, na terra brasilis predomina o ponto de interrogação.

Se, por um lado, parecemos caminhar em 2020 para a menor inflação desde os anos 30 (obrigado ao governo por não ter cedido às propostas mirabolantes de imprimir dinheiro para fazer frente à pandemia…), por outro as expectativas de crescimento para 2021 estão murchando.

Talvez a economia brasileira exija outros formatos de letra para descrever sua trajetória. Talvez tenha algo no alfabeto árabe pra gente.

Eu não sei vocês, mas eu estou de saco cheio já de rever premissa de PIB para baixo. O eterno adiamento de nosso "agora vai" pesa.

Diante disso, é importante ter em mente: por aqui, os ganhos nos ativos parecem muito mais relacionados à menor percepção de risco (i.e. menores taxas de desconto sobre os ativos) do que a melhores perspectivas de retomada.

Medo do medo de ficar de fora

A mim, particularmente, nada incomoda mais do que o tal FOMO — fear of missing out, ou na tradução, medo de ficar de fora.

É um fenômeno amplamente conhecido: no afã de não perder uma "pernada" para cima dos mercados, agentes tomam risco e deixam para ver depois o que fazem. Para o institucional, a melhor defesa é o ataque para não ficar para trás da concorrência; para a pessoa física, é o irresistível chamado das aparentes oportunidades de ganho rápido.

Consequência inevitável disso é que valuations esticam. E não tarda para que discussões do tipo "fundamento não importa, olha o fluxo" brotem.

Importante ter em mente: é da natureza do mercado o overshooting, tanto para baixo quanto para cima. E tal qual, nos momentos de queda (como o recente), o exagero para baixo tende a ser corrigido tão logo os agentes consigam parar e fazer conta, o mesmo vale para cima.

Não conte (nunca) com trajetórias lineares, para qualquer direção. Tampouco espere que desalinhamentos entre fluxo e fundamentos persistam indefinidamente: ou as expectativas sobre os fundamentos melhoram, ou o fluxo eventualmente se ajusta.

Tem oportunidades nos 90 e tantos mil pontos? Claramente sim… mas não se iluda: não é em tudo. E as marcas pré-pandemia não são bom indicador de potencial, pois os fundamentos mudaram e continuam mudando.

Só para registrar

Está gostoso olhar lá para fora e se refestelar com reflexos positivos por aqui, mas é importante não perder de vista nossa agenda interna.

O final de semana trouxe novas manifestações pró e contra governo. O TSE analisa, amanhã, duas ações que pugnam pela cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Expectativa, por óbvio, é de arquivamento. Na quarta, STF se debruça sobre o inquérito das “fake news” (sic).

Além, é claro, da miríade de possibilidades de outros fatos não antevistos se apresentarem: Brasília sempre foi uma caixinha de surpresas — desagradáveis, principalmente —, mas poucas vezes tanto quanto em 2020.

Postado originalmente por: Nord Research