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Finanças: Grandes desafios à frente

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Alto endividamento das nações, desemprego ainda elevado, necessidade de novos estímulos econômicos e uma eleição pela frente. Nada disso afeta, por ora, o preço das Ações.


Balança, mas não cai

Desde a semana passada, os mercados acionários globais estão no movimento “balança, mas não cai”.

Apesar de alguma realização de lucros efetivamente ter se materializado, o movimento ainda foi tímido, se levarmos em conta os desafios – velhos e novos – que permeiam as economias globais.

Fonte: Koyfin

O termômetro de Ações de tecnologia dos Estados Unidos, o índice Nasdaq, mostra uma queda de aproximadamente 12 por cento em relação ao topo recente. Já o Dow Jones, que representa a velha economia, retrocedeu quase 8 por cento, enquanto o S&P 500 caiu cerca de 10 por cento.

Com a taxa de juros perto de zero – sendo a expectativa de manutenção desse patamar por alguns anos – o rendimento real, descontada a inflação de aplicações em renda fixa, está negativo, como destaca o gráfico abaixo.

Fonte: Wall Street Journal

Na visão do mercado, esse tem sido o principal fator para explicar a forte alta recente dos mercados de Ações mundo afora, bem como para os pequenos movimentos de realização de lucros. Ninguém quer deixar seu rico dinheirinho no banco quando o rendimento perde para a inflação, então o mercado de Ações tem sido a principal alternativa.

Alguns desafios

Apesar de tecnicamente aceitável, a explicação, ou mesmo o comportamento dos investidores, parece não levar em conta alguns dos grandes desafios a serem enfrentados pelas principais economias do mundo ao longo dos próximos anos.

Apenas ao longo dos últimos meses, os Estados Unidos, bem como as principais nações europeias, aumentaram substancialmente seu endividamento na intenção de combater os danosos efeitos da crise deflagrada pelo novo Coronavírus.

Em meados de março, o governo norte-americano aprovou um pacote de estímulos no total de 2 trilhões de dólares, que inclui o envio de cheques mensais no valor de 600 dólares para milhões de americanos.

Apesar de todo esse esforço, temos aproximadamente 30 milhões de norte-americanos recebendo algum tipo de ajuda do governo, seja através de programas desenhados especificamente por conta da pandemia, seja por meio de iniciativas regulares disponibilizadas pelos estados. Notem, no gráfico abaixo, que a maioria se refere a programas relacionados especificamente à pandemia.

Fonte: Wall Street Journal

Findo o pacote, discute-se agora uma nova rodada de ajuda aos cidadãos norte-americanos, pequenas empresas e até mesmo grandes conglomerados, que pode chegar a 1,5 trilhão de dólares. Porém, ainda há um grande dissenso no congresso americano sobre esse montante, e parece que o assunto será deixado para depois das eleições, que batem à porta.

Nesta semana, o CBO (Congressional Budget Office) atualizou suas projeções para o crescimento dos Estados Unidos nas próximas décadas, bem como para o endividamento do país.

A expectativa de crescimento entre 2020-2050 é de 1,6 por cento no período, abaixo da média observada entre 1990-2019, que ficou em 2,5 por cento.

Além disso, diante do crescente endividamento do país, a expectativa do comitê é de que, em 2050, a relação entre a dívida e o PIB do país fique em 195 por cento, acreditemos ou não…

Não bastasse todo esse cenário ruim já consolidado, visto que o dinheiro foi distribuído e não há como voltar atrás, temos na Europa uma possível retomada das contaminações pela Covid-19 em um ritmo maior do que o esperado.

Nesta semana, Espanha e Reino Unido voltaram a anunciar medidas mais restritivas quanto à circulação de pessoas e funcionamento de comércio. Já nos Estados Unidos, pouco se fala sobre uma segunda onda mais avantajada, ao menos neste momento.

A cereja do bolo está por conta das eleições nos Estados Unidos, prevista para 3 de novembro, ou seja, daqui pouco mais de um mês.

Apesar de estarmos nos aproximando das eleições, o mercado financeiro não parece muito preocupado com uma possível reviravolta no comando do país.

Uma vitória de Joe Biden, do partido Democrata, certamente teria condições de mudar o rumo econômico e social dos Estados Unidos ao longo dos próximos anos, visto que Biden, por várias ocasiões,  mostrou-se a favor de políticas sociais mais voltadas para as classes menos favorecidas, independentemente do impacto fiscal que pode ser causado – mais dívida, mais juros a serem pagos pelo país.

Algumas pesquisas eleitorais mostram Biden à frente de Trump, com uma vantagem larga, cerca de 8 pontos percentuais. Dadas as características do sistema de eleição americano, essa diferença absoluta não diz muita coisa além de mostrar alguma insatisfação com o atual presidente. Daí a garantir uma vitória a Biden há um longo caminho. Sabemos que, na política, uma grande reviravolta pode acontecer do dia para a noite. Resta-nos esperar.

Ninguém sabe

A verdade é que pouco sabemos como todos esses problemas serão endereçados ao longo dos próximos trimestres ou anos, se é que de fato o serão. O mais fácil é sempre deixar para a próxima administração, ou mesmo esconder as questões mais difíceis, impopulares e amargas debaixo do tapete. Enquanto isso, a bola de neve não para de crescer.

Apesar de todos esses desafios, absolutamente nada parece afetar o bom humor do senhor mercado. Ações em alta, negociadas a preços estratosféricos, muito acima do real valor das operações das empresas. A cada dia fica mais difícil encontrar razoáveis oportunidades de investimentos.

Já vimos esse filme antes, mas desta vez parece ser um super longa-metragem. Todavia, tudo tem um fim e um novo começo. Cautela não faz mal a ninguém em momentos de grande incerteza, por isso, não corra riscos desnecessários.

Um abraço e bom final de semana a todos.

Postado originalmente por: Nord Research