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Finanças: Da geometria à psicologia

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Aprenda a enxergar para além do preço de tela

Pintura surrealista de René Magritte que contém a ilustração de um cachimbo, seguida dos dizeres: "Ceci n'est pas une pipe" (Isto não é um cachimbo).

Cuidado com como você interpreta o que você enxerga.

Entre o medo e a esperança

Após uma quarta-feira tensa, mercados encomendam recuperação para hoje.

Nem de longe os problemas se foram: pelo contrário, é bem provável que o noticiário da segunda onda siga fazendo parte do pano de fundo das próximas semanas.

Mas a turma coloca na balança: de um lado, a aversão ao risco provocada pelos potenciais impactos econômicos de novos lockdowns; de outro, surpresas positivas dentre os resultados corporativos do terceiro trimestre…

Afinal de contas, já ficou claro que com ou sem pandemia haverá um dia depois de amanhã

…e, para não perder o costume, há a tentadora hipótese de novos estímulos econômicos – sempre eles! – na Europa, de forma preventiva em razão do recrudescimento da Covid-19 por lá.

O mercado nunca aprende – ou, talvez, quem nunca aprenda sou eu.

Mas eu quero falar de outra coisa hoje. Que, com sorte, terá muito mais impacto na sua vida como investidor(a) do que qualquer tentativa minha de interpretar o noticiário do dia – afinal, o jornal já sai da gráfica velho.

Uma questão de dimensões

Eu já insisti em diversas ocasiões que ficar olhando preço é a receita para deixar qualquer um maníaco-depressivo. Mas também sei que são grandes as chances de você, leitor(a), seguir refém dele.

Às vezes não basta que alguém nos diga algo: nós precisamos, em nosso âmago, entender a situação. Então permita-me tentar algo:

Pegue uma folha de papel e desenhe um quadrado. Agora, ao lado, desenhe um cubo.

Desenho de um quadrado ao lado do desenho de um cubo.

Um quadrado é uma figura geométrica bidimensional. Ele pode ser perfeitamente representado em uma folha de papel. O desenho de um cubo, por sua vez, costuma consistir em dois quadrados sobrepostos e interligados – e é isso que você enxerga ao olhar para a folha.

Isso aí em cima não é um cubo. Da mesma maneira que não existe um quadrado tridimensional, não existe um cubo bidimensional. O que você faz, quando enxerga a representação 2D de um cubo, é abstraí-la e tratá-la como se tridimensional fosse.

Mas não é.

Um cubo achatado

O que isso tem a ver com os preços de mercado?

De um lado, você tem as expectativas dos resultados futuros das empresas. Essa é uma componente do preço. Do outro, você tem o apetite de risco dos agentes – este é o outro fator determinante.

As expectativas sobre os resultados flutuam? Em alguma medida sim, mas não de maneira muito drástica – com exceção de casos nos quais o cenário enfrentado pelas empresas no mundo real muda drasticamente também.

Já o apetite de risco… o mercado é completamente bipolar, ultrassensível aos ruídos do curto prazo.

Só que, ao olhar para o preço, você enxerga a resultante das duas forças – e não cada uma das dimensões separadas. É o cubo achatado na folha de papel. O preço, sozinho, não diz se está oscilando por conta de mudanças de expectativas futuras ou por variações no apetite por risco.

Mas quer uma pista? Quando se trata de risco, o movimento costuma ser generalizado (para baixo ou para cima).

Soa familiar?

Da geometria à psicologia

A partir do momento que você compreende que o curto prazo é muito mais ditado pelas variações de humor – do medo à ganância – do que pelas mudanças nos fundamentos, a vida fica mais simples.

O fundamento é quase perene. E digo quase porque as realidades econômicas nas quais as Empresas se inserem estão sujeitas a mudanças – mas não da noite para o dia. Ele pode ser compreendido.

O apetite por risco, por sua vez, é selvagem. Hoje está aqui, amanhã está lá. É quase pendular. Você pode tentar compreendê-lo, mas é mais provável que acabe por ele engolido.

O segredo é: se você investir olhando para o fundamento e aprender a ignorar as oscilações decorrentes das variações do apetite por risco… você vira o jogo a seu favor.

É fácil? Não. Mas é um jogo muito mais psicológico do que qualquer outra coisa.

Psicologia aplicada

Quem enxerga em apenas uma dimensão viu os preços desabando ontem e concluiu que o mundo vai acabar.

Aviso: não vai.

O que eu vi? Aversão exacerbada ao risco, fruto do medo do desconhecido à luz de um cenário externo que se deteriora na esteira da segunda onda.

Mudou o fundamento? Mudaram as expectativas de resultados das Empresas no mundo real? É bem possível que, em alguns casos, a perspectiva de uma nova entornada no caldo justifique um pouco mais de cautela, mas… todo mundo?

Vai todo mundo perder? Mesmo quem passou pela primeira onda praticamente incólume? Se o preço dissesse tudo, a resposta do mercado nele implícita seria “sim”.

Desculpe-me, mas não dá.

Meu convite é: olhe para o preço e pergunte-se: “quanto disso é mudança do fundamento e quanto é só aversão ao risco?”

O momento da reflexão não poderia ser mais propício: estamos em plena temporada de resultados e algumas Empresas já estão dando um verdadeiro show – que, insisto, não encontra eco no desempenho das suas Ações em um mercado dominado pelo medo do desconhecido.

Há não muito tempo atrás, estava difícil encontrar bons preços no Nord Dividendos. Eis que eles estão de volta…

Por tempo limitado, como sempre.

Aprenda a abstrair e aproveite.

Postado originalmente por: Nord Research