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Finanças: "Contra fluxo não há argumento"

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O gringo voltou e trouxe com ele o fluxo. Commodities para cima, Ibovespa para cima. As ações mais líquidas puxam o índice e o desespero dos investidores. O que fazer?

Rally do IBOV

Viu o rally do Ibovespa desde o dia 30?

Gráfico mostra a variação do IBOV de nov/2019 a out/2020.IBOV. Fonte: Bloomberg.

Estamos muito próximos de romper as máximas de 105 mil pontos que atingimos desde as fortes quedas da pandemia, em fevereiro deste ano.

Será que finalmente sairemos da banda 95-105 mil pontos no Ibov que estamos desde maio?

Não sei, mas o rally não aconteceu só por aqui – todos os índices estão em dólares.

Em dólares: Ibov (branco), MexBol (México, vermelho), HSI (China, roxo) e S&P500 (EUA, azul).

Em dólares: Ibov (branco), MexBol (México, vermelho), HSI (China, roxo) e S&P500 (EUA, azul). Fonte: Bloomberg.

Olhando para o gráfico acima, fica claro como ainda somos a pior Bolsa do mundo (que tem relevância).

O gringo passou o ano inteiro vendendo Bolsa brasileira e eu ainda não tinha entendido o porquê.

Por que, gringo? Por quê?

"Sem as reformas o Brasil explode"

Faltaram linhas para os jornalistas do Valor Econômico explicarem os motivos do rally da Bolsa.

Print de manchete do Valor Econômico: "Ibovespa volta a subir com ânimo do exterior e ganha quase 12% em novembro. O que sustenta o viés comprador é a redução da incerteza relacionada à eleição americana e perspectiva positiva com a vacina contra Covid-19 da Pfizer e BioNtech."

Fonte: Valor Econômico.

São tantos os motivos que nem couberam na manchete.

Mas a reportagem se "esqueceu" de mencionar a acalorada guerra verbal que nossos políticos de Brasília produziram.

Guedes: “Sem as reformas em janeiro, o Brasil vai explodir”. “Vamos muito rápido para a hiperinflação.”

Bolsonaro: "Todo mundo vai morrer um dia; não adianta fugir disso”. "Brasil tem que deixar de ser um país de maricas.” "Apenas a diplomacia não dá. Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora.”

Já Maia, mais antenado às novas tecnologias, usou o Twitter:

Print do tweet de Rodrigo Maia (@RodrigoMaia): "Entre pólvora, maricas e o risco à hiperinflação, temos mais de 160 mil mortos no país, uma economia frágil e um estado às escuras. Em nome da Câmara dos Deputados, reafirmo o nosso compromisso com a vacina, a independência dos órgãos reguladores e com a responsabilidade fiscal."

São ótimas pautas para os meus amigos da faculdade se degladiarem nos grupos de Whatsapp, mas é tudo barulho.

Claro, Guedes e Maia têm razão em defender as reformas (do modo deles) que nos levarão ao desenvolvimento de longo prazo.

Porém, infelizmente, nada disso importa no curto prazo.

É só barulho…

"Contra fluxo não há argumento"

Luis Stuhlberger, gestor do Verde, maior ícone da gestão do Brasil, cunhou a sábia frase acima.

Os volumes financeiros negociados na nossa Bolsa, nos últimos 2 dias, foram os dois maiores do ano.

Gráfico mostra volume da B3.

Volume da B3. Fonte: Bloomberg.

Ganharam até dos volumes nos dias de 2 ou 3 circuit breakers que vimos em março – com o pânico da pandemia, claro.

Olhando os dados, só um tipo de investidor tem poder de fogo para um volume tão significativo.

Tamanho volume negociado só significa uma coisa: o gringo voltou.

O gringo voltou?

Rally das líquidas

Em outubro e novembro, o fluxo gringo virou.

Foram 2,87 bilhões injetados pelos gringos na Bolsa do Brasil em outubro e 3,36bi até o dia 6 de novembro.

Mas no acumulado de 2020, o gringo ainda tira 81,63 bilhões de reais do mercado brasileiro. Ainda tem dinheiro para voltar.

O maior indício da volta dos gringos é que o rally foi puxado pelas Ações mais líquidas da Bolsa (e aquelas que mais sofreram na crise):

Maiores altas e quedas do IBOV desde 30-10-20.

Desde 30-10-20: maiores altas e quedas do IBOV. Fonte: Bloomberg.

Bancos, Petro e Ambev.

Sim, o anúncio de que Itaú (ITUB4) pagaria o maior dividendo do mundo (sua participação na XP, comentamos aqui na semana passada) ajudou.

Contudo Bradesco (BBDC4) e Ambev (ABEV3) não possuem participação na XP.

O gringo possui dinheiro demais (em dólares) e só pode comprar as Ações mais líquidas da Bolsa.

Eu poderia passar horas aqui dizendo que o mercado brasileiro está barato, que as oportunidades são enormes, que somos o país do futuro, que as bravatas de Guedes, Maia e Bolsonaro são brincadeirinha…

Entretanto nada disso importa para o gringo…

Brasil: o maior exportador de commodities do mundo

Explico o movimento em 1 gráfico:

Em dólares: Petróleo (vermelho) e IBOV (branco).

Em dólares: Petróleo (vermelho) e IBOV (branco). Fonte: Bloomberg.

O petróleo é a maior commodity global. É a referência para as outras commodities.

O Brasil é o maior exportador de commodities do mundo. Nossa Bolsa é 30 por cento exportadora de commodities (30 por cento bancos e 40 por cento o "resto").

Ibovespa por setores.

Ibovespa por setores. Fonte: Bloomberg.

Nossa Bolsa e nossos ciclos econômicos sempre foram super correlacionados com as commodities.

Commodities para cima, nossa Bolsa para cima.

Faz sentido?

Brasil: o maior exportador de minério e soja do mundo

Você vai me dizer: "Bruce, mas o minério e a soja, que são os maiores produtos de exportação do Brasil, estão voando há mais tempo."

Minério (vermelho), Soja (verde) e Ibov (branco).

Minério (vermelho), Soja (verde) e Ibov (branco). Fonte; Bloomberg.

Sim, eu sei. Mas o minério é superdependente de investimento em infraestrutura da China.

E a China é o maior importador de soja do mundo.

Eu também ainda não entendi por que somos mais correlacionados com o crescimento global (petróleo) do que com o crescimento da China (soja e minério).

Mas contra o fluxo não há argumentos.

O rally continua

Hoje, os futuros globais abrem novamente verdinhos. O rally continua.

Futuros das bolsas das Américas.

Futuros das bolsas das Américas. Fonte: Bloomberg.

Entendendo que os gringos estão voltando e puxando as líquidas para cima, o mercado vai tentar uma "rotação".

Basicamente, quem ficou para trás do índice Bovespa vai vender suas Ações e correr atrás das que "mais sobem".

Se deu errado até agora, vai continuar dando errado correr atrás do fluxo gringo.

Já cansei de presenciar este desespero nos investidores profissionais e também nos investidores pessoa física.

Correr atrás do que mais sobe vai fazê-los comprar na máxima e amargar ainda mais prejuízo em 2020.

Bom para nós.

Antecipe os resultados e não o fluxo

Em 12 meses, o ANTI-Trader acumula +61 por cento, O Investidor de Valor+32 por cento e o Ibovespa -2 por cento.

ANTI-Trader (branco), Investidor de Valor (laranja) e IBOV (azul).

ANTI-Trader (branco), Investidor de Valor (laranja) e IBOV (azul). Fonte: Nord Research e Bloomberg.

Faz algum tempo que estamos "parados" aqui em cima, à procura da próxima pernada.

O segredo é simples: compramos empresas mais baratas, mais lucrativas e que crescem mais que o índice.

Sim, no ANTI-Trader estamos perdendo do IBOV nos últimos dias. Mas nada muda em nossa estratégia de longo prazo.

Continuamos olhando os resultados (receita, ebitda e lucro) de nossas empresas e os resultados (receita, ebitda e lucro) de outras empresas na Bolsa.

Se encontrarmos oportunidades melhores de investimento (resultados melhores e preços mais baixos), vamos abocanhá-las.

O fluxo gringo não muda em nada o que fazemos.

Afinal, é muito mais fácil antecipar resultados do que o flluxo gringo.

O fluxo gringo vem e vai. Os resultados persistem.

O fluxo gringo não muda as receitas, ebitda e lucros das empresas.

O fluxo gringo é de curto prazo.

Nossa estratégia é ganhadora no longo prazo.

Postado originalmente por: Nord Research