Nosso déficit em transações correntes vem aumentando. Isso inclui uma queda no superávit comercial.
Hoje o Banco Central divulgou a ata da reunião do Copom de quarta-feira, na qual ele optou por reduzir a Selic de 6 por cento para 5,5 por cento.
Quem esperava muito mais explicações se frustrou. A ata veio com as mesmas informações trazidas pelo comunicado, sendo a principal mensagem a manutenção da frase que diz que, em tudo continuando positivo, ainda cabe mais um ajuste no grau de estímulo.
Enquanto o Copom mostra que ainda cabem algumas quedas em seu modelo, que utiliza previsão do câmbio em 3,9, o real no mercado não para de se desvalorizar, já chegando a 4,16.
O que será que está por trás disso?
Balança de pagamentos dá a dica
Nosso déficit em transações correntes vem aumentando. Isso inclui uma queda no superávit comercial.
Sempre tivemos um déficit, não é novidade. Mas ele era fácilmente financiado com Investimentos Estrangeiros Diretos (ou seja, gringos investindo no nosso setor produtivo).
Em 2019, a balança mostra que o IED vem caindo bem. Além disso, a mudança da contabilidade utilizada pelo BC mostra que a situação é pior do que imaginávamos.
De janeiro a agosto do ano passado, o IED tinha totalizado 46 bilhões. Neste ano, estamos com apenas 41 bilhões de dólares acumulados.
Além disso, a revisão metodológica jogou o acumulado de janeiro a julho para apenas 31 bilhões.
A renda fixa morreu
Não somos apenas nós aqui da Nord que acreditamos que a renda fixa morreu. Ou, pelo menos, tirou umas longas férias.
O investidor estrangeiro também vem reduzindo seu percentual relativo de investimento em títulos de renda fixa, dado o menor carrego.
Em compensação, seus investimentos em ações vêm aumentando.
Fonte: Banco Central
Com taxas de juros em linha com o resto do mundo, temos que nos diferenciar no crescimento, e atrair fluxo para a nossa bolsa.
Não teremos mais aquela enxurrada de fluxo gringo em títulos longos como tínhamos no passado.
Agora, ou você corre mais risco, ou acabou o retorno!
O câmbio é a resultante
Com todos esses movimentos de menor fluxo externo, o câmbio mais desvalorizado é simplesmente a resultante.
Para voltarmos a ter um câmbio de 3,90 e, consequentemente, deixar o BC cada vez mais tranquilo para testar novas quedas na Selic, teremos que mostrar sinais consistentes de recuperação econômica.
Caso contrário, teremos que nos acostumar com um novo patamar da moeda.
O Brasileiro já vem gastando muito menos no exterior, segundo os mesmos dados da balança comercial. O Fintwit está cheio de "não vai ter Disney!", ou "Que tal o Beto Carreiro?".
Seus investimentos também devem considerar essa nova realidade.
Você deve ter percebido que a Selic caiu, o BC disse que ela cairia mais, e os juros longos não caíram absolutamente nada, enquanto os curtos caíram 20 a 30 pontos base.
O que o juro longo quer te dizer com isso?
R.I.P. renda fixa!
P.s.: siga usando a renda fixa como controle de risco. Mas tome cuidado em querer ganhos agressivos de marcação a mercado!
Marilia Fontes
Postado originalmente por: Nord Research