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Finanças: Black Fraude em Via Varejo

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Até 1,4 bilhão em perdas. E agora?

Black Fraude em Via Varejo

A vida, às vezes, nos prega umas peças engraçadas: poucos temas seriam tão apropriados para serem abordados em plena Sexta-Feira 13.

Vou direto ao ponto: a Via Varejo (VVAR3) anunciou, no finalzinho do pregão de ontem — e não fica claro, por ora, o porquê do anúncio ainda com mercado aberto… —, novos achados das investigações internas que vêm sendo conduzidas na Companhia.

Recapitulando…

Se você não sabe de que investigações estou falando, recapitulo: há aproximadamente um mês, a Companhia informou ao mercado que, entre setembro e outubro, recebeu denúncias anônimas apontando possíveis irregularidades em sua contabilidade. Constituiu, à época, uma comissão interna para apurar a consistência das denúncias. Em uma primeira verificação, tal grupo de trabalho não constatou problemas. Mas avisaram, à época, que os esforços de investigação continuariam.

E continuaram. E encontraram a sujeira debaixo do tapete.

A Empresa reconheceu, em nota divulgada ontem, que o montante de provisões constituídas em seu balanço para fazer frente a litígios de natureza trabalhista estava deliberadamente subestimado.

Entendendo a situação

Uma provisão funciona como uma “reserva” previamente constituída para fazer frente a um evento adverso cuja probabilidade de ocorrência é percebida como suficientemente alta: se acho que vou ter determinadas perdas, eu já as reconheço antecipadamente no meu resultado, na forma de despesa, e carrego o valor no balanço como uma obrigação a pagar.

“Olha, eu acho que no futuro eu vou ter que pagar isso aqui, então já lança aí no resultado” — isto é uma provisão.

No caso em particular, esses reconhecimentos parecem ter deixado de ser feitos da maneira correta pela Empresa por algum tempo. Como consequência, o saldo de provisões não reflete a realidade que a Companhia enfrenta na esfera judicial.

Também foram constatados diferimentos na baixa de ativos e na contabilização de passivos. O que é isso? A Companhia parece ter postergado ou fracionado o reconhecimento de despesas operacionais que reduziriam seu ativo ou elevariam seu passivo.

É o tipo de coisa que se faz para melhorar artificialmente resultados. No caso da Via Varejo, cujos números já eram ruins, é o tipo de coisa que parece ter sido feita para fazê-los parecer menos ruins.

Mas e então? Qual o impacto disso tudo? A estimativa da Companhia é que o reconhecimento dos "esqueletos no armário" provoque despesas extraordinárias da ordem de 1,2 a 1,4 bilhão de reais nos números do 4T19.

Pontos para ter em mente:

  1. Não há efeito caixa imediato. Os desembolsos referentes aos ajustes — que, na maior parte, dirão respeito ao pagamento de contingências trabalhistas — devem ocorrer num prazo de 3 a 4 anos. Esses desembolsos são compatíveis com a capacidade de geração de caixa da Companhia.
  2. Os ajustes dizem respeito a práticas da gestão anterior. Apontamos, em diversas ocasiões (tendo sido a mais recente na última terça-feira, durante o Analistas Sem Censura), que enxergávamos como alta a probabilidade da nova gestão, em meio a uma natural limpeza da casa, revisar provisões e promover demais ajustes contábeis.

Em outras palavras, não há motivo para alarde.

Qual o impacto?

Considerando o montante anunciado e o cronograma indicado para os desembolsos, estimo que o impacto máximo é da ordem de 1 bilhão de reais.

Tem mais: a Companhia informou, por outro lado, que identificou oportunidades de aproveitamento de créditos fiscais não reconhecidos, da ordem de 600 milhões. Se comprovados, reduzem o impacto para aproximadamente 500-600 milhões.

Por motivos a serem posteriormente apurados — pode ter sido erro, simplesmente; pode ter sido resposta a um vazamento da informação —, a Companhia divulgou o Fato Relevante que trouxe à luz esses fatos ainda com o mercado aberto. Como consequência, houve reação das Ações ainda ontem: VVAR3 estava cotada a 11,20 e encerrou o pregão a 10 reais.

Essa queda de 1,20 no preço da VVAR3 equivale a uma perda de valor de mercado próxima de 1,6 bilhão de reais.

Ou seja: em tese, os efeitos das inconsistências contábeis já estão no preço.

Mas já adianto: ao contrário do que pensa muita gente, o mercado não é perfeito.

É bastante provável que, na sessão de hoje, pequenos investidores apavorados se deparem com a manchete de jornal e entrem em desespero, vendendo suas posições de maneira indiscriminada.

Como resultado, as Ações podem ter mais volatilidade no pregão de hoje. Importante ficar atento. E, principalmente, importante tomar cuidado para não agir na emoção.

A pergunta que não quer calar

Lá em 2016, a antiga Cnova — que hoje é uma casca dentro da própria Via Varejo — reportou fraudes contábeis da ordem de 200 milhões de reais. Eram inconsistências no registro de vendas, variações de estoques, de contas a pagar e outros.

Agora se descobre que, em Via Varejo, ocorreu manipulação de provisões e imprecisões na contabilização de despesas.

O que Cnova e Via Varejo têm em comum? Eram ambas empresas do mesmo grupo econômico. Ambas tinham dedo do Grupo Casino — que, por sua vez, controla o Pão de Açúcar (PCAR4).

Perguntar não ofende: será que está tudo em ordem por lá?

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Postado originalmente por: Nord Research