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Finanças: BC reduz Selic em meio à crise

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Ontem o Banco Central decidiu fazer um ajuste pontual na taxa Selic por conta da crise do coronavírus.

Ontem o Banco Central decidiu fazer um ajuste pontual na taxa Selic por conta da crise do coronavírus. O ajuste levou a taxa de 4,25 por cento para 3,75 por cento, reduzindo-a em 50 pontos base.

No comunicado da decisão, os diretores informaram que ela deve ficar neste patamar:

"O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar."

A queda na taxa veio acompanhada de revisões para baixo no seu modelo de inflação. O IPCA projetado por seus modelos para 2021 caiu de 3,7 por cento para 3,6 por cento, mesmo com o câmbio subindo de 4,25 para 4,75.

Não foi só o BC que revisou suas expectativas para baixo depois do coronavírus. Vários economistas reduziram suas projeções de crescimento em cerca de 2 por cento, para 0 ou até menos.

O impacto do isolamento social é recessivo. Significa menos atividade, menos produção, menos vendas. Mas esse impacto, a princípio, é temporário: se o fechamento geral durar dois meses, a tendência é de que, passado esse período, a atividade volte a se recuperar.

Teoricamente, o BC não deveria responder a choques temporários. Por que, então, a atuação se justifica?

Acontece que essa “pausa” é tão brusca e o fechamento é tão generalizado que essa queda passa a ter efeitos secundários. O restaurante da esquina, que trabalha com margens baixas, não aguentará ficar parado por dois meses. Nem os trabalhadores autônomos, que não possuem salário garantido. Tampouco os informais, que vivem do comércio.

Tudo isso acaba aumentando o desemprego, e criando uma instabilidade social bem maior do que a paralisação em si. As empresas e as pessoas com dificuldades financeiras passam a não pagar seus empréstimos e financiamentos, aumentando a inadimplência. Uma crise de crédito e liquidez, como já vimos em 2008, pode provocar um rombo enorme na atividade.  

É com isso que eles estão preocupados. E não estão sozinhos: antevendo esses possíveis desdobramentos, os Governos e Bancos Centrais do mundo todo estão tomando diversas medidas estimulativas. Países como EUA, Reino Unido, Canadá, México, Nova Zelândia, China, entre vários outros, já reduziram suas taxas de juros para amparar a economia. Além disso, diversos pacotes de estímulos fiscais também foram anunciados, assim como a compra de ativos, nos moldes de 2008, também fazem parte dos pacotes.

No Brasil não foi diferente. O Governo anunciou um auxílio de 200 reais para o trabalhador informal para os próximos 3 meses, também informou a renúncia de recebimento de impostos e a antecipação do décimo terceiro salário de pensionistas do INSS. Além disso, o próprio BC está dando linhas de financiamento em dólar, fazendo leilões da moeda e liberando liquidez para os bancos emprestarem. O CMN também anunciou medidas para facilitar a renegociação de dívidas com os bancos e aumentar sua capacidade de empréstimo.

(E provavelmente vêm mais medidas por aí)

Tudo isso para que o choque de curto prazo tenha o menor impacto possível na atividade de longo prazo.

Mas e o dólar?

Alguns economistas defendem que o BC não deveria reduzir os juros no momento atual, pois o impacto na atividade seria baixo mas, por outro lado, o impacto na moeda seria alto. O dólar já está acima de 5 reais, e isso poderia gerar inflação ou uma saída de estrangeiros.

Embora o impacto da queda dos juros possa parecer pequeno em termos de número de PIB, ele gera um grande alívio para as empresas que se financiam a CDI, diminuindo suas despesas financeiras. Além disso, a redução também diminui o custo de financiamento do banco, ajudando a capitalizar o sistema financeiro, tornando-o mais saudável.

O próprio câmbio desvalorizado torna nossos ativos mais baratos e os nossos produtos mais competitivos, também ajudando na atividade.

A redução dos juros só seria um problema se o mercado entendesse a queda como não-sustentável (como aconteceu em 2012, na gestão Tombini) e subisse as projeções de inflação futura e, por consequência, os prêmios da curva de juros.

Nesse caso, quedas adicionais da taxa Selic seriam compensadas por altas nos juros longos, impactando negativamente a economia real.

O próprio Banco Central menciona isso como um risco que, segundo ele, será monitorado. Mas que esse não é o caso no momento.

A desvalorização do real (12 por cento) em 2020 está sendo a maior desvalorização de moeda, seguida de outros países emergentes como África do Sul (10 por cento) e Chile (8 por cento).  

Além do câmbio, os juros longos de vários países emergentes também estão subindo em um movimento esperado de "risk-off" (venda de ativos de risco, e migração para ativos de qualidade, como os juros americanos).

Tudo isso será monitorado pelo Banco Central. Caso o câmbio e os juros longos se comportem de forma semelhante ao dos outros países emergentes, o BC pode optar por dar estímulos adicionais à economia com mais uma queda na Selic.

Caso o mercado se torne cético quanto a sustentabilidade fiscal do Governo, podem puxar ainda mais os juros longos para cima, fechando qualquer espaço do BC para fazer política estimulativa.

Por isso, muitos estão me perguntando se eu acredito que essa alta dos juros longos é uma oportunidade de investimento.

Na minha visão: não, ainda não.

É muito arriscado investir nisso, e podemos ver novas altas agressivas caso a crise piore.

Existem outras alternativas mais interessantes no momento. Excelentes empresas, pouco afetadas pela crise, estão com projeções de dividendos de 2 dígitos. Vale a pena ficar de olho nessas oportunidades.

Já no campo da Renda Fixa, tem um outro título que é bem mais seguro, e pode oferecer ganhos agressivos se a volatilidade começar a cair. Eu explico melhor os detalhes sobre essa nova operação no Renda Fixa PRO.

Mas para além dessas oportunidades, talvez o recado mais importante seja mais amplo: sabemos que, com os movimentos do mercado nos últimos dias, muitos de vocês estão genuinamente preocupados. Não é para menos.

Nós aqui da Nord já passamos por situações assim várias vezes. Estamos calejados. Mas sabemos que é muito difícil para o pequeno investidor conter a apreensão em meio ao turbilhão pelo qual estamos passando.

Teremos impactos na economia como um todo? Sim, e não serão pequenos. Mas eles vão variar de setor para setor e de empresa para empresa. E em muitos casos os preços dos ativos, após as quedas recentes, parecem sobrepenalizar diversas companhias.

E isso também é normal: quando o mercado entra em modo de aversão a risco, penaliza todo mundo indiscriminadamente. Ao tempo e à hora, isso se traduz em boas oportunidades — e é atrás delas que toda a equipe da Nord está neste momento.

Por mais difícil que possa parecer, sairemos desta situação oportunamente. E os preços de hoje, no futuro serão encarados como uma excelente oportunidade de investimento. Por isso, a hora é de calma, paciência e visão de longo prazo. Virtudes que o mercado sempre recompensou e sempre recompensará.

Postado originalmente por: Nord Research