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Finanças: As mentiras que todo mundo te conta acabam hoje

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As brincadeiras de primeiro de abril são sempre bastante divertidas. É um dia em que qualquer tipo de pegadinha, trollagem ou zueira estão liberadas. Na verdade, diria que é até encorajado que elas aconteçam.

Quanto mais real, melhor. O troféu da semana ficou para a Daniele, pela bela atuação na peça “Nord Day Trade”. Ainda que as mentiras sejam contadas em forma de brincadeira nesse dia, o que é saudável, há muitas outras que são propagadas no mundo dos investimentos todos os dias.

Elas estão presentes em diversos canais de comunicação, seja no YouTube ou no seu Instagram. Estão nas rodas de conversa com aquele seu tio que “jura de pé junto” ter encontrado a fórmula mágica de ganhar dinheiro. São distribuídas por day traders, gerentes de banco e agentes autônomos, seu vizinho que participa de fóruns, influenciadores… a lista é longa.

Gif escrito "lie" (mentira, em inglês).

Se fosse para escrever sobre tudo, talvez vocês encontrassem abaixo um livro, e não uma newsletter. Então, por ora, vou focar na minha área de expertise: fundos de investimentos. Vamos aproveitar a semana para desmascarar algumas mentirinhas que sempre aparecem nesse mercado.

Começaremos pela primeira: fundos de crédito privado não possuem risco porque a cota não oscila.

WYSIATI é o acrônimo batizado por Daniel Kahneman para a frase “What you see is all there is” (o que você vê é tudo que existe).

Em linhas gerais, a ideia é que você forma a sua opinião com base nas informações às quais você tem acesso. Isso vale para o fato de conhecer alguém pela primeira vez ou até mesmo para tomar decisões no mercado.

Vou mudar o acrônimo, adicionando um “N”. Afinal, quem sou eu na fila do pão para rebatizar frases do Kahneman? Calma; acredito que isso possa ser útil. Então a frase alterada seria “What you see is NOT all there is”.

Quando se trata dos fundos de crédito privado, esta é a minha impressão: o que você observa na cota não é exatamente tudo que existe. Na indústria, normalmente, o que vemos é um gráfico de rentabilidade paralela ao CDI, com os retornos mensais que parecem ter a precisão de um relógio suiço.

Aparentemente, não há qualquer movimentação, ranhura ou perda. Sem a volatilidade, a percepção oferecida aos investidores é a de que não há riscos.

A verdade é que existem diversos riscos, mas eles foram varridos para debaixo do tapete. Descasamento de ativo (carteira) com passivo (resgate), spreads mais amassados, fundos que ficaram grandes, fundos marcando ativos na “curva” em vez de “a mercado” etc. Poderia me estender aqui, mas já deu para entender.

Nada disso aparece na volatilidade da cota, mas eles estão lá, para serem realmente vistos em momentos de estresse (como foi em março do ano passado).

Gráfico à esquerda: antes da crise – retorno total da indústria de crédito privado (ago/2018 =100). 
Gráfico à direita: após a crise – retorno total da indústria de crédito privado (ago/2018 =100).

Fonte: Economatica

Não acho que as mesmas condições presentes lá atrás – quando comecei a me pronunciar no assunto – voltarão a estar presentes. Entretanto, na hora de investir, não se deixe cair no conto de que não há risco nesse fundo.

Esse é o caso mais comum.

Assim como, ao investir em ações, existe a "obsessão" por querer investir naquelas que já subiram 1000 por cento, em fundos ocorre a mesma coisa.

Muitos investidores são ludibriados pelos maravilhosos gráficos de retorno, principalmente se isso envolver bons resultados de 12 meses. Esse é o erro. O investidor precisa começar a se questionar mais sobre o processo de obtenção dos resultados do que sobre os próprios resultados em si.

A performance brilhante pode ter sido a resultante de uma aposta insana, de extrema alavancagem e com baixa probabilidade de acontecer. Pode também ter concentrado o portfólio em duas small caps.

Naquela ocasião, funcionou, contudo, na maior parte das vezes, teria levado você e o gestor para o buraco. São atitudes como essas que fazem crescer o número de fundos cancelados ao longo do tempo.

Alternativamente, mesmo que os resultados daquela janela tenham sido construídos de maneira saudável, você precisa avaliar como o gestor se comportou em diversas situações de mercado. Verifique a postura dele em dias de crise, mercado de lado e até mesmo nos momentos de alta da bolsa. Quando ele está ganhando dinheiro ou perdendo.

Pratique olhar para essas questões, assim, suas chances de não escolher um fundo que entrará para a lista de mortos da próxima década aumentam.

Eu sou partidário do investimento a longo prazo. Acredito que aqueles que conseguem controlar os seus anseios de curto prazo obterão belos resultados ao longo do tempo.

Ainda assim, investir a longo prazo não significa esquecer o que você comprou. Seja uma ação, um título de renda fixa ou um fundo. Você precisa estar atento para avaliar se os motivos pelos quais você adquiriu aquela gestão ainda seguem presentes. Tem que estar o tempo todo revisitando os cases para avaliar isso.

Para facilitar, apresentarei dois exemplos que deveriam suscitar reavaliação pela sua parte.

Em determinado período, a estratégia pode ter mudado por conta do aumento do patrimônio do fundo – passando a olhar mais large caps do que small caps. Também pode ser que a equipe que gerou os resultados até então tenha decidido sair conjuntamente e não esteja mais no comando da gestão.

Seja qual for o caso, certamente teremos resultados diferentes, afinal, o perfil do fundo mudou. Então invista, sim, a longo prazo, mas não tenha essa visão de comprar e esquecer. Cuide bem dos seus investimentos para que, no futuro, eles gerem os frutos que você tanto deseja.

É impressionante como existe uma ansiedade por resultados. Quando os resultados não aparecem nos dias e meses seguintes, há uma sensação de que algo está errado.

Em seguida, vem um desejo incontrolável por querer fazer mudanças. Não fazer nada parece errado, como se você não estivesse fazendo o necessário para ter sucesso.

Isso é exatamente o que acontece na indústria de fundos. Com os resultados de curto prazo dos fundos ficando aquém do desejado, os investidores se sentem na obrigação de mexer na carteira.

Isso é um erro. Ficar alternando entre gestores fará com que você tenha resultados pífios ou até perca dinheiro (mesmo com o gestor gerando bons resultados).

Uma boa história desse efeito é dos cotistas do fundo Magellan, do qual Peter Lynch era gestor. O retorno dele foi espetacular: em média, 29 por cento ao ano por 13 anos, ou o mesmo de multiplicar o dinheiro por 27x.


Gráfico apresenta performance do fundo Magellan, do qual Peter Lynch era gestor. O retorno dele foi espetacular: em média, 29 por cento ao ano por 13 anos, ou o mesmo de multiplicar o dinheiro por 27x.

Fonte: Motley Fool

Curiosamente, a média dos cotistas conseguiu perder dinheiro. Como um fundo pode ser tão bem-sucedido e os cotistas não se aproveitarem disso? A ideia é bem simples: ficavam entrando no fundo quando a cota subia e saíndo quando ocorriam perdas.

É a receita para perder dinheiro. Não tem jeito. O sucesso dos seus investimentos está em comprar bons gestores e carregá-los pelo tempo suficiente. O tempo e o poder dos juros compostos farão o resto.

Por mais que na semana tivemos 1 dia da mentira e as pegadinhas foram divertidas, tome cuidado com elas no restante do ano.

Como eu disse, o mundo dos investimentos está cheio delas. Algumas o afastam dos seus objetivos de longo prazo, outras destroem o seu patrimônio. Meu conselho para você é que tome cuidado. Cada escolha de alocação que você faz para o seu patrimônio define o destino dele no futuro.

No Nord Fundos, nosso objetivo é colocá-lo nas mãos dos melhores e evitar que você cometa diversos erros que vários investidores fazem – e que não permitem que eles colham os frutos de longo prazo.

Abraços,

Postado originalmente por: Nord Research