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Finanças: As fases do mercado em crise

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Fase 1: Atire primeiro, pergunte depois 

Fase 1: Atire primeiro, pergunte depois

Imagine que você está perdido em uma floresta.

Está muito escuro e mal é possível enxergar um palmo à sua frente. Logo, naquele momento você está totalmente dependente dos seus outros sentidos para lhe proteger.

Você sabe dos perigos que habitam naquelas redondezas, com animais que adorariam lhe usar como ceia.

Ao andar, acaba esbarrando em todo tipo de galho. A cada passo, acaba por entrar ainda mais para dentro da mata e parece que fica cada vez pior achar algum caminho de volta à civilização.

E, enquanto tenta se encontrar, você começa a escutar uma série de ruídos à sua esquerda. Aos poucos, eles ficam cada vez mais altos e próximos, como se algo (ou alguém) viesse em sua direção.

Imediatamente, você tira a sua arma do coldre e começa a atirar na direção dos ruídos. Nessas horas, não importa se era simplesmente o vento balançando os galhos, um urso feroz ou um colega lhe procurando.

Seja o que for, você não quer pagar para ver.

Em outras palavras, é aquela famosa frase: atire primeiro, pergunte depois.

Quando os mercados entram em crise, vale a mesma lógica: em momentos como esse, ninguém quer saber dos fundamentos.

A pessoa física se desfaz da posição por não saber onde isso pode parar. O day trader que estava alavancado 20x é zerado pela corretora.

Nos multimercados, o "cara do risco", vendo tudo deteriorar e estourar os limites do fundo, “zera” as posições de bolsa do fundo a qualquer preço.

Enquanto isso, o gestor de ações vende — seja para fazer frente aos resgates ou para fazer algum caixa.

E, como no meio do pânico as vendas não olham fundamento, não há distinção de setor ou modelo de negócio…

…tudo cai mais ou menos na mesma magnitude, o que muitas vezes não faz o menor sentido, dado que os impactos são diferentes em cada setor e em cada empresa.

É nessas horas que a dissonância entre mundo real e a telinha do seu home broker é a maior possível.

Fase 2: A dissonância do mundo real com os preços

Depois de alguns circuit breakers, você parece anestesiado. Perde, então, a esperança de que a situação irá se normalizar tão cedo.

As notícias nos jornais e as discussões no mercado parecem confirmar a mesma ideia. Tudo que parece existir são aquelas luzes vermelhas que, a cada dia, só ficam mais negativas e aumentam a sua angústia.

Porém… é justamente neste momento em que não se pode esquecer o ponto central da análise de ações: as empresas.

Enquanto os preços dos ativos estão na bacia das almas, as companhias possuem uma dinâmica totalmente diferente.

Afinal, o tempo das empresas é muito diferente do tempo do mercado. As companhias estão longe de não mudar o seu VALOR na mesma frequência com que você observa alterações nas cotações do seu home broker.

E são justamente nesses momentos onde ocorrem as maiores distorções entre preço e valor.É em meio ao pânico e desespero que o investidor consegue as melhores barganhas.

Para quem olha horizontes de 5 ou 10 anos, esse é um momento singular.

E quanto mais o mercado percebe isso, mais caminhamos para a fase 3:

Fase 3: Do desespero à racionalidade, parte 1

A fase três é dos questionamentos. A pergunta fundamental que todo gestor de sucesso começa a se fazer é: será que os fundamentos por trás das empresas deterioram tanto a ponto de justificar uma queda de 50 por cento no seu valor?

Pergunte-se isso.

Avaliemos friamente a situação:

Não há dúvidas de que a crise do coronavírus é danosa, contendo impactos na economia devido às paralisações implementadas nas empresas.

Dado todo esse caos, diversos economistas — não que o histórico de acerto da turma seja bom… — já estão trabalhando com cenários de PIB em torno de zero para esse ano. É possível que tenhamos impactos em 2021 também.

Agora, tudo isso é curto prazo. É importante lembrar que o valor das empresas é o somatório de todos os fluxos de caixa de hoje até "o infinito".

E, por construção, grande parte desse valor vem de além de 2020, 2021, 2022… está no longo prazo. Logo, qualquer tipo de mudança no horizonte próximo não afeta tanto assim o valor da empresa. Para se justificar uma queda mais abrupta, precisaria se assumir que o longo prazo também está muito comprometido.

Seria esse o caso? Parece-me que não. É uma premissa irrazoável, até pela natureza do problema que estamos enfrentando.

No entanto, leituras assim, como essas expressas nos preços, são fruto de tempos de pânico e irracionalidade — o que leva a essas distorções absurdas.

Para que não fique tudo nesse campo teórico, vamos ao exemplo prático de uma varejista famosa..

Fase 3: Do desespero à racionalidade, parte 2

Conversando com um amigo, há pouco tempo, sobre essas flutuações bizarras, acabei pedindo emprestado um modelo de avaliação dessa empresa para me ajudar a ilustrar um simples ponto: o curto prazo importa muito pouco.

Antes de mais nada, não tenho a ilusão de que modelos são bolas de cristal e dizem o valor das companhias.

Planilhas aceitam tudo —  basta você querer. Entretanto, possuem uma função interessante: nos ajudam a entender o que o mercado tem assumido em termos de premissa em seus preços.

Ajudam a quantificar o que os preços estão dizendo implicitamente.

Então, vamos lá.

Antes do Carnaval, a varejista era negociada a algo como X reais. A esse preço, parecia estar implícito um crescimento nominal das receitas em torno de 7 por cento ao ano na perpetuidade.

Pode ser muito ou pouco, otimista ou justo. Não vou entrar nesse mérito, não nos ajuda aqui.

No meio do furacão, a varejista chegou a negociar próximo à metade de X  uma queda de 50 por cento desde o início da crise.

Teria o seu valor intrínseco reduzido nessa magnitude? Para entender um pouco mais, vamos fazer um pouco de conta para avaliar o que o mercado tem refletido nos preços naquele momento.

Primeiro, vamos então assumir um cenário pessimista: que, em 2020 e 2021, o Brasil terá crescimento de zero ao invés dos 2 por cento e demore mais 4 anos para chegar onde estávamos.

Eis o que acontece:

Dois pontos valem a atenção aqui: (i) Apesar de uma diferença em 2020, grande parte do fluxo de caixa é pouco impactado ; (ii)  Dado esse cenário, o valor teórico da ação se movimenta muito pouco — é questão de alguns centavos a menos.

Então como é possível explicar uma queda de 50 por cento no valor? Simples: o mercado estaria colocando no preço uma mudança estrutural no crescimento da empresa em razão da crise.

Para quanto? Ao preço de X/2 reais, seria como se a varejista, no longo prazo, fosse crescer suas receitas a 0 por cento em termos reais  algo como 3,5 por cento nominal…

Isso é um cenário de catástrofe. Nem mesmo na maior crise do país, vigente entre 2013 a 2015, com o PIB recuando -3,5 por cento, a companhia reportou resultados tão ruins.

Implicar que isso se daria de forma perpétua me parece exagero.

Ou seja: até poucos dias atrás, você conseguia comprar um ativo de ótima qualidade por um preço que aguentava muito desaforo.

O mercado também viu isso e, aos poucos, começou a comprar  não à toa a ação já subiu 25 por cento desde então.

Esse é só um caso e o ínicio da fase 4.

Fase 4: A volta aos fundamentos

A fase 4 é a típica volta à racionalidade. Passado o desespero, o mercado volta olhar mais para o fundamento.

Pode demorar mais ou menos tempo, mas esse momento chega. Afinal, o que importa no longo prazo são as atividades das companhias no mundo real.

É difícil dizer onde estamos nesse momento — talvez algo entre as fases 3 e 4 ainda. Mas, por ora, ainda existe muita ação refletindo em seus preços os cenários catastróficos que não fazem o menor sentido.

Em outras palavras, as margens de segurança são gigantescas — e essa é a melhor proteção que você pode ter.

Então, se ainda não tomou coragem, há tempo de aproveitar alguns bons negócios a preços formidáveis.

O Bruce e o Ricardo possuem excelentes oportunidades tanto no Investidor de Valor, quanto no Nord Small Caps.

Agora, tenha cuidado para não ser muito ganancioso. Nós não sabemos o que virá pela frente e no curto prazo o mercado ainda pode demorar a achar o fundamento.

Porém, aos olhos de hoje, conseguimos comprar excelentes ativos a preços que serão inacreditáveis daqui a algum tempo  um pouco da sensação que sinto quando vejo alguns ativos lá em 2008.

É a hora de aproveitar o momento, mas sempre com responsabilidade.

Um abraço.

Postado originalmente por: Nord Research