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Finanças: As esquecidas

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As narrativas e os extremos

É impressionante como os mercados vivem de narrativas e de extremos. Diversas ações (ou setores) já foram promessas de futuro.

Bancos médios, construtoras, empresas de consumo, todos estes já foram colocados no pedestal como as próximas promessas da bolsa. Isso só para citar alguns exemplos.

O comportamento, claro, é sempre o mesmo: eles começam a estar na boca do povo e rapidamente não se fala de outra coisa.

Chega ao ponto de até seu vizinho, pouco informado, já ter entendido qual era a tese por trás de determinado investimento.

O passo seguinte é uma infestação do setor em questão nas carteiras dos investidores. O que me intriga nesse ciclo é o que deriva disso: uma era de extremos.

O mercado se anima tanto com uma ação ou setor que passa a precificar absurdos, como se as empresas estivessem planejando uma dominação interestelar.

Enquanto isso, do outro lado, temos segmentos e setores abandonados que, de repente, passam a ser considerados ultrapassados, pouco rentáveis e indignos de atenção.

Quando o mercado entra em narrativas, caminha para os extremos – muito animado com certos segmentos e depressivo com outros.

Ambos os sinais nos dizem algo sobre o que vem acontecendo hoje.

A ode às techs

Hoje, já está bem claro que a crise trouxe “vencedores” e perdedores.

No lado vitorioso estão as empresas de tecnologia, simbolizadas principalmente pelas FAAMG (Facebook, Apple, Amazon, Microsoft e Google).

Enquanto o varejo físico sofria horrores com o lockdown, com operações fechadas e prejuízos no balanço, essas empresas ganharam novos adeptos.

Só para ter uma noção dos volumes, a Netflix ganhou 26 milhões de clientes nos primeiros 6 meses do ano – valor este superior a todo o período de 2019.

Nesta conjuntura e com um excesso de liquidez gigantesco promovido pelos Bancos Centrais, o dinheiro escolheu esse grupo de ações.

Fonte: Bloomberg e Nord Research

Fonte: Bloomberg e Nord Research

Nesse ínterim, do outro lado, o mercado largou completamente o restante das companhias do S&P.  Enquanto as empresas ligadas à tecnologia sobem mais de 50 por cento no ano, as demais caem 30 por cento.

Confesso que as empresas de tecnologia não me espantam tanto. O processo de digitalização foi bem acelerado, com muitos usuários sendo expostos a certos serviços pela primeira vez – novamente, veja que a Netflix ganhou 12 milhões de pessoas novas.

Agora, e o restante das empresas?

Por mais que a pandemia tenha sido devastadora para os resultados das companhias, será que foi o suficiente para destituir as empresas de 30 por cento do seu valor?

Teriam as empresas perdido tanto fluxo de caixa da perpetuidade para ser equivalente a isso?

Não me parece factível. Novamente, o mercado privilegia as narrativas convenientes.

A meu ver, estamos a caminho da volta à normalidade. Temos nada menos que 11 vacinas na fase final de testes, uma quantidade de estímulos gigantescos feitos e outros que ainda estão por vir.

A solução está aí, a questão agora é de tempo. Enquanto isso, em terras tupiniquins, parece que vemos algo parecido.

O mundo é on-line

É interessante como somos um microcosmos do resto do mundo. Por mais que tenhamos nossas idiossincrasias, as tendências que vemos lá fora eventualmente também repercutem aqui, mesmo que com atraso.

Em terras brazucas, apesar da ausência das gigantes de tecnologia, a temática e-commerce foi dominante durante grande parte deste ano.

É verdade que as empresas desse segmento estão em processo de transformação, bem como o nível de penetração do e-commerce no varejo aumentou consideravelmente.

O reflexo nos valuationsdas empresas do setor é bem evidente. Empresas como Magazine Luiza, B2W, Lojas Americanas e Via Varejo surfaram muito bem esta onda.

Isso tudo eu consigo compreender. Aqui, o jogo me parece ser o de conhecer bem as empresas e dimensionar se não está sendo pago um valor exagerado pelo fluxo de caixa à frente.

O que me surpreende é o quão esquecido ficou o mundo físico, mais ligado à economia real e às maneiras tradicionais.

Fonte: Economatica e Nord Research

Fonte: Economatica e Nord Research

O gráfico acima mostra justamente essa discrepância. Enquanto as empresas com operações mais fortes em e-commerce sobem em média 50 por cento no ano, as empresas ligadas ao consumo físico (shoppings e empresas de varejo em geral) caem 30 por cento.

Parece um exagero. Os preços de certos segmentos perpetuam condições que simplesmente não parecem fazer sentido.

Parece que ninguém nunca mais irá aos shoppings, com os os aluguéis seguindo em patamares de pandemia ad infinitum.

O Home Office será realidade para todos, com a extinção dos escritórios a partir de 1° de janeiro de 2021.

E assim por diante. Há inúmeros exemplos que eu poderia citar, mas imagino que você já tenha entendido.

O mercado tende a seus exageros, mas são neles que aparecem as oportunidades.

A ode aos extremos

Tivemos um rally forte nos últimos dias, mas ainda há muitos setores que estão esquecidos na bolsa. Há, sim, oportunidades ainda na mesa.

O importante é conhecer bem o negócio que você compra, como também compreender os gatilhos de valor da empresa.

Entender que, de forma geral, não serão poucos anos de resultados ruins que destruirão o valor da companhia, apesar de o mercado muitas vezes precificar isso.

Para quem olha a longo prazo, é exatamente nesses momentos em que o mercado precifica os extremos que fazemos os melhores investimentos.

Temos volatilidade no meio do caminho, sem dúvida. Entretanto, quando o medo bater, lembre-se deste mantra: preço é o que você paga, valor é o que você leva.

Em outras palavras, nos aproveitamos da irracionalidade coletiva para ganharmos dinheiro. No Investidor de Valore no Nord Small Capsexploramos exatamente isso.

Um abraço,

Luiz

Postado originalmente por: Nord Research