Após forte ganho no ano passado, o Ibovespa vai acelerar ainda mais em 2020?
O senhor tempo
“A longo prazo, todos estaremos mortos” – John Maynard Keynes
Essa foi uma das frases mais marcantes de Keynes, economista britânico, que teve grande contribuição no campo macroeconômico durante a década de 30 — principalmente após o “crash” na bolsa americana. Ele acreditava que o Estado deveria “intervir” na economia, quando havia um forte desequilíbrio, assegurando assim o bem-estar social.
Suas ideias perderam influência na década de 70, diante da maior aceitação da teoria econômica liberal — liderada por Milton Friedman — que pregava uma visão pessimista quanto a capacidade do Estado na regulação dos ciclos econômicos.
Certos ou errados, cada um deles teve uma importante contribuição à sua época, assim, foquemos no “senhor tempo” — o soberano.
Eu diria que independentemente do que venha a acontecer no próximo segundo, dia, semana, mês, ano, é muito provável que continuemos por aqui, habitando o planeta terra. Mas é fato: não viveremos para sempre.
O que mudou radicalmente ao longo das últimas décadas, foi o aumento de expectativa de vida no mundo e, principalmente, no Brasil. Veja o gráfico abaixo:
Mas não para por aí…
A contínua evolução tecnológica fará ainda mais diferença na nossa vida. O departamento econômico das Nações Unidas prevê que em 2050, nos países desenvolvidos, as pessoas, no geral, poderão viver até os noventa e cinco anos! Já imaginou?
Rentabilidade vs Tempo
Durante o ano passado, pouco deu errado no mundo dos investimentos.
Esse bom desempenho nas aplicações financeiras gerou um certo movimento de “euforia” em alguns investidores — principalmente os que, apenas recentemente, começaram a ter uma posição mais ativa nas escolhas de seus investimentos — e que ainda não viram uma crise igual a de 2008.
Predomina, hoje, um sentimento de grande otimismo em relação a continuidade dessa lucratividade: “2020 será de grandes ganhos”, as pessoas dizem em alto e bom tom.
Até mesmo profissionais do mercado financeiro, que tem experiência, deram entrevistas bem otimistas para o desempenho do mercado acionário no próximo ano. O sentimento é de que “agora vai!”.
Não sabemos se o ritmo de ganhos em renda variável, ou em outros ativos, visto no ano passado, vai se replicar 2020.
Sim, há uma expectativa de que o país cresça, o desemprego diminua, as pessoas voltem a gastar, o que ajuda a roda da economia a girar.
Mas…. e se não for bem assim?
Entrar em um investimento “furado” pode ser muito danoso ao seu patrimônio — lembre-se que uma queda de 50 por cento precisa de uma alta de 100 por cento para que o investimento retorne ao seu preço de entrada.
E se demorar muito tempo para isso acontecer? E o efeito da inflação nesse período? E se nunca mais voltar ao preço inicial?
Para a geração atual, que vai provavelmente chegar aos noventa e tantos anos, com um sistema previdenciário – apesar do recente ajuste – ainda meio capenga, será cada vez mais necessário que as pessoas tenham poupança própria, para enfrentar o futuro e a velhice.
Segurança, parcimônia e visão de longo prazo são fundamentais para proteger essa poupança.
A bola de cristal
Algumas pessoas acham que analistas de investimentos possuem uma bola de cristal — eu mesmo encomendei uma novinha para 2020! Brincadeiras à parte, nosso trabalho exige muita dedicação, estudo, análise; e, acima de tudo, discernimento entre momentos de euforia e pânico.
E como podemos acertar a hora da virada? Não temos como; mágica não é nosso forte.
Entretanto, sempre buscamos informações que possam nos ajudar a identificar os momentos de forte otimismo, ou de pavor.
Fiz um levantamento histórico sobre as recomendações para compra, manutenção e venda das ações que compõem o Ibovespa, desde 2015. Escolhi os pontos de inflexão — quando o mercado começa a cair, para balizar o estudo.
A ideia não é acertar o exato momento da próxima correção na bolsa, mas sim ter uma indicação de como as pessoas — nesse caso, os analistas — se comportavam em relação ao futuro – otimistas ou não – quando da última realização de lucros no mercado.
Os dados estão destacados na tabela e gráfico abaixo, mas resumindo:
Nos topos havia otimismo por parte dos analistas, pois majoritariamente as recomendações eram de compra e manutenção — de certa maneira eu já esperava isso.
Todavia, olhando especificamente o momento atual, vemos uma migraçãodas recomendações de manter e de venda para o lado da compra, culminando, hoje, em um total de 54 por cento dessas recomendações voltadas para compra, quase o maior nível dos últimos três anos.
É um baita otimismo, tanto pela redução nas recomendações de venda, quanto nas indicações de manutenção.
Gato escaldado tem medo de água fria
Já tive a oportunidade de passar por algumas correções do mercado, incluindo a crise de 2008.
Me recordo que em todos os momentos de extremo otimismo, a decisão mais sábia foi cautela redobrada: os próximos capítulos, em cenários como esse, tendem a ser desafiadores.
Apesar de não possuir uma bola de cristal, tenho a impressão que o momento atual demanda prudência em alocações nos investimentos mais arriscados.
Não discordo de Keynes. Ainda não alcançamos a vida eterna. Caso fosse esse o cenário, teríamos tempo infinito para corrigir os erros de alocação no nosso portfólio.
Contudo, não precisamos comprar qualquer coisa, todo momento e a qualquer preço.
A rentabilidade dos seus investimentos é feita ao decorrer do tempo e não em algumas semanas ou meses.
Não deixe se iludir por rendimentos passados: eles não são garantia de ganhos futuros.
Para quem quiser falar mais sobre o assunto, sigo com meu perfil no Instagram (@crivelli.cesar) aberto para conversar com todos vocês.
Até a próxima semana!
Postado originalmente por: Nord Research