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Finanças: Ainda faz sentido se expor à Bolsa americana?

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A maré e o risco

Eu tenho certeza que você já foi à praia quando criança. Mesmo os mineiros aqui presentes vão se identificar, então venha comigo.

Não sei você, mas quando eu ainda era um pequeno projeto de gente, aprendi a regra número 1 para entrar no mar: tomar cuidado com a maré e água no umbigo é sinal de perigo.

A maré e a correnteza te enganam na praia e isso pode te trazer severas consequências.

Quando ambas estão baixas, te incentivam a ir mais fundo e tomar mais risco nas profundezas do oceano. Em mares calmos, passar a água do umbigo não parece uma ideia tão ruim, afinal, existe uma percepção menor de perigo

Por outro lado, quando a maré e a correnteza sobem, você é pego no contrapé. O que antes parecia seguro se torna extremamente arriscado. Em mares agitados, estar com a água acima do umbigo pode ser muito mais desafiador.  

No mercado financeiro, a correnteza e a maré são os nossos juros. Em momentos de juros muito baixos, os agentes tomam mais risco por acreditarem que qualquer aposta vale a pena.

Projetos com retornos de 5 por cento ao ano podem ser interessantes em um mundo de juro 0, mas não fazem sentido em um mundo em que os juros são de 10 por cento.

Quando se trata de um ambiente de juro negativo, em que o dinheiro literalmente queima na mão, esse movimento se intensifica. Nós nos permitimos sonhar com investimentos de empresas com fluxo de caixa muito distante na perpetuidade, ações de crescimento, venture capital, private equity etc.

Foi precisamente isso que vimos na economia americana nos últimos 10 anos.

Sob o efeito de entorpecentes

Em um mundo que carece de investimentos com retornos reais positivos na renda fixa, a natureza do investidor é procurá-los em outros mercados.

É por isso que juros baixos são drogas estimulantes e seu efeito induzido é fazer o investidor tomar risco, afinal, qualquer projeto ou iniciativa com retorno positivo é atrativo.

O Brasil teve uma breve experiência com isso quando o Banco Central colocou a Selic em 2 por cento. Observamos o interesse gigante de investidores por retornos em FIPs, Private Equity, Criptos ou qualquer outra forma de retorno exótica.

Quando o dinheiro queima na mão, o investidor procura qualquer outra forma de gerar um retorno real positivo.

Entretanto, o que sentimos em terras tupiniquins por meses, a economia americana passou na última década em uma escala infinitamente maior. Quando você passa um tempo sob o efeito de drogas entorpecentes, isso causa distorções e mudanças de percepção (aquele sintoma de embriaguez, sabe?).

O reflexo desse movimento por um período extenso de tempo foram exageros causados nos mercados.

Nos mercados acionários, o efeito da queda de juros se manifesta de duas maneiras em essência: aumento dos lucros das empresas e expansão de múltiplos – ambos foram responsáveis por 56 por cento do retorno da bolsa americana na última década.

Fonte: PGM Global

A euforia se estendeu para uma sequência de IPOs, demanda de Private Equity, Venture Capital, usos de opções por pessoas físicas… até mesmo estruturas de SPAC, tivemos no mercados aos montes (literalmente um investimento a cheque em branco sem compromisso).

Tudo isso foi reflexo de um ambiente com poucas alternativas para compor retorno acima da inflação e muita liquidez injetada no sistema.

Além dos efeitos do juro baixo sobre o valuation das companhias, excesso de otimismo com os mercados, eles também amorteceram a nossa percepção sobre o risco versus o retorno das apostas.

Esse, acredito eu, seja o maior perigo para o investidor olhando para frente.

Postado originalmente por: Nord Research