fbpx
Pular para o conteúdo

Finanças: A TARTARUGA E A LEBRE

Image

"Qual retorno vou ter com o Renda Fixa PRO?"

"Qual retorno vou ter com o Renda Fixa PRO?"

Essa era a pergunta que eu mais recebia dos interessados em assinar a série. Imagino que o investidor queria saber se "esse produto" rendia mais ou menos do que o CDB no qual ele estava investido.

No final, todos achavam que o RFPRO era um super CDB, uma renda fixa com retorno fixo, na qual se saberia exatamente o quanto iria ganhar.

Mas operar renda fixa não é nada disso.

Eu sempre respondia: "não há meta de rentabilidade. Teremos épocas de retorno bem agressivo, bem acima de qualquer CDB. Mas haverá épocas em que eu vou render apenas CDI, e quero que vocês se sintam muito felizes com isso."

Acho que ninguém entendia direito o recado que eu queria passar.

Vou tentar explicar…

No início de 2016, pouco depois do início da movimentação para viabilizar o Impeachment de Dilma Rousseff, os juros prefixados dos títulos públicos estavam ao redor de, incríveis, 16 por cento.

A taxa alta era fruto de uma irresponsabilidade do BC de Tombini em controlar a inflação, juntamente com uma política fiscal irresponsável por parte do governo.

Juros prefixados de 5 anos. Fonte: Bloomberg

Nessa época, ainda no meu trabalho anterior, percebi uma grande oportunidade de valorização dos títulos públicos com possíveis quedas dos juros de mercado. Fosse pela saída da presidente, ou pela inescapável necessidade de rever a "nova matriz econômica" que ela e sua equipe erroneamente haviam adotado.

O Impeachment aconteceu, e o novo presidente Michel Temer promoveu uma série de reformas econômicas de cunho liberal. O BC também adotou política monetária dura no controle da inflação, ancorando as expectativas em patamares bem mais baixos.

Essa oportunidade de mercado fez com que títulos prefixados e indexados dessem retornos de 20 a 45 por cento ao ano durante os anos de 2016, 2017 e 2018. Certamente, durante esses anos minha carteira rendeu mais do que qualquer CDB de banco arriscado.

Mas, em 2019, as coisas mudaram para mim. A eleição de Bolsonaro alterou o quadro político nacional, e estabeleceu um equilíbrio diferente entre as forças políticas. O novo presidente não sentava para negociar com o Congresso.

Ao mesmo tempo, a bomba relógio dos gastos com a Previdência — gastos esses que cresciam rapidamente — exigia uma ação rápida e coordenada dos poderes para que uma reforma ampla e impopular fosse aprovada.

E para piorar, os mesmos juros que antes estavam em 16 por cento, e tinham muita gordura de prêmio para queimar, agora estavam em apenas 8,5 por cento.

Resumindo: eu não estava mais gostando de correr esse risco. Não sabia se um Presidente popular, mas aparentemente pouco habilidoso politicamente iria conseguir aprovar a reforma mais difícil que já tinha sido proposta.

Eu lembrava que o FHC não tinha conseguido passar a reforma por 1 voto. Eu também considerava que se não conseguíssemos dessa vez, a trajetória de dívida pública brasileira se tornaria explosiva, podendo nos levar facilmente para juros acima dos 16 por cento iniciais.

Recomendei a zeragem das posições no primeiro semestre de 2019. Me voltei apenas para ativos pós-fixados. Não quis participar dessa festa. Achei arriscado. Minha carteira, no segundo semestre de 2019, rendeu um pouco mais do que o CDI.

Bom, algumas semanas após minha zeragem algo incrível aconteceu. O Congresso decidiu ignorar suas desavenças com o Presidente e, pela primeira vez na história do País, tomar para si a responsabilidade de salvar o futuro se organizando e aprovando a reforma.

Além disso, os dados de atividade econômica foram fortemente revisados para baixo o que permitiu novos cortes da Selic pelo Banco Central.

Fui duramente criticada por ter recomendado a zeragem das posições. Claro! Como se eu tivesse uma bola de cristal e soubesse que o Congresso mataria essa bola quadrada no peito.

Algumas pessoas acham que gerir patrimônio é montar uma carteira onde se ganhará dinheiro se o cenário que você defende acontecer. Mas não é nada disso. Gerir patrimônio significa montar a melhor carteira possível, dado que você NÃO sabe o que vai acontecer.

Pode acontecer algo que valorize seu ativo, ou pode acontecer exatamente o contrário, ou pode acontecer uma terceira opção completamente aleatória. Nesse caso, o Congresso poderia aprovar a previdência ou reprovar. Quem sabia o que iria acontecer?

Por isso é preciso ter uma enorme margem de segurança em todos os ativos que você compra. Pois caso você erre o cenário, ou aconteça um cisne negro, você perde pouco dinheiro. Afinal o ativo já estava bem descontado.

Você precisa aprender que não é necessário ganhar sempre. Não precisa entrar em todas as "supostas" oportunidades. Não precisa estar em todos os ativos que podem se valorizar. Pois é exatamente assim que você se expõe demais, e acaba perdendo dinheiro.

Lembre-se: os maiores gestores do mundo não ganharam dinheiro igualmente todo mês, resultando em um patrimônio enorme no final. Eles ganharam um valor brutal em duas ou três tacadas ao longo da vida.

Boas oportunidades, assimétricas e com margem de segurança, não aparecem sempre. Oportunidades ruins, com probabilidade aleatória, tem todo dia.

Lembro, enquanto eu trabalhava no Itaú Asset em 2008, de perguntar para o meu chefe por que ele não comprava um certo ativo que ele achava que iria se valorizar. Não me recordo exatamente qual ativo era, mas ele me deu uma resposta que eu nunca mais esqueci:

"Porque, dado o cenário atual, a chance dele se valorizar é a mesma dele se desvalorizar, e eu não opero meu patrimônio jogando uma moeda para cima, entendeu?".  

Nada mais claro do que isso…

A vida de um gestor é assim. Ele tem várias operações possíveis de serem feitas, a todo momento. O que ele tem que fazer é ter a paciência e a cabeça no lugar para esperar uma excelente oportunidade chegar e aí sim realizar o investimento.

Mas não pense que eu não fiquei muito brava comigo mesma por ter zerado minha posição de juros. Cada base point que o DI caía, eu queria morrer. Mas me perdoei, pois realmente acreditava que era um risco retorno ruim. Aceitei ver a queda e não participar dessa.

Durante todo o ano de 2019, eu vi os prêmios de juros serem amassados como se não houvesse amanhã. Eu estava olhando apenas para títulos de crédito privado, uma vez que não via gordura nenhuma nos títulos do governo.

Mas até mesmo nas emissões privadas, os prêmios que as empresas pagavam em relação às taxas dos títulos públicos eram bem magrinhos. Passei meses e meses olhando cada emissão que saía e recomendando aos assinantes para não entrarem pois a taxa era muito baixa. Até um pouco com vergonha, pois me pagavam para eu não recomendar praticamente nada. Apenas Tesouro Selic.

Eu virei uma tartaruga em rentabilidade, enquanto olhava ao meu redor, e via as lebres correndo e me passando. O mercado se entupia de crédito privado, amassando euforicamente cada gominho de prêmio que ainda restava.

Mas, aleatoriamente, veio a crise do coronavírus. O mercado entrou em pânico e começou a aumentar tudo o que era taxa de juros e prêmio dos ativos.

O resultado nos fundos de crédito privado foram esses:

Fonte: Economática

Fundos perderam em 1 mês a performance obtida em 3 anos de funcionamento, jogando vários para baixo do CDI.

Até mesmo aqueles fundos chamados DI, que podem ter crédito privado no portfólio, sem que tenham necessariamente que chamar de "crédito privado", sofreram bastante e tiveram retornos negativos. Fundos de renda fixa de baixa volatilidade também sofreram com as taxas de juros de títulos públicos subindo agressivamente.

Fonte: Economática

Essa crise foi bem ruim para quem tinha ativos com pouca margem de segurança.

Mas enquanto uns perdiam…

Eu aqui, a tartaruga daquela velha fábula, que estava lotada de caixa rendendo CDI, saí calmamente para fazer as minhas compras no mercado de renda fixa.

Eu pude, agora, investir nos mesmos títulos que eu tinha zerado no passado, com as mesmas taxas de quando eu zerei, mas agora com a reforma da previdência aprovada, com a inflação já controlada, o fiscal já mais previsível e a atividade com um choque recessivo.

Ou seja, absurdamente menos risco para o mesmo retorno. A oportunidade era tão boa, e isso ficou claro tão rápido, que o mercado voltou logo a cair para as taxas e a recomendação gerou uma valorização de 6 por cento, em apenas uma semana.

Além disso, os títulos de crédito que eu evitava pelas taxas baixíssimas, estão agora em black friday no mercado. O Renda Fixa PRO conta no momento com uma carteira com várias opções em crédito privado. Por exemplo, para um período em torno de 3 anos, estou vendo boas empresas, bem sólidas e cheias de caixa pagarem incríveis IPCA + 6 por cento. Há quanto tempo isso não acontecia?

Por isso que eu não consigo dizer o quanto o produto almeja render. Terão momentos, se o mercado permitir, de retornos agressivos e posições maiores. Por outro lado, haverá momentos em que eu vou estar com baixíssimo risco e vou render em torno de CDI. Mas isso não necessariamente será ruim. Poderá ser o ativo mais rentável do seu portfólio. Você irá descobrir que às vezes é melhor render menos do que perder dinheiro.

Moral da história que você não pode esquecer nunca: não entre em todas! Compre seus ativos com margem de segurança. Não fique triste se seu vizinho estiver ganhando dinheiro com coisas que não fazem o menor sentido para você. Entre apenas quando se sentir seguro, quando a aposta for assimétrica ao seu favor. Seja a tartaruga, e não a lebre.

Eu só consegui ser a tartaruga hoje, pois já fui a lebre no passado. Espero que você, ao contrário de mim, consiga aprender um pouco mais com o erro dos outros.

Se quiser adicionar um pouco dessa filosofia de investimento no seu portfólio, convido você a conhecer o Nord Advisor. É o pacote que contém 4 séries, inclusive o Renda Fixa PRO, todos com um bom desconto.

 

Afinal, você pode usar o conceito de comprar barato também nas suas assinaturas.

Bom final de semana.

Postado originalmente por: Nord Research