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Finanças: A semana do investidor bipolar

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Em busca de sinais

Em busca de sinais

Verdade seja dita: a jornada do investidor até aqui foi maravilhosa. Depois de séculos vivendo o drama do Trade War, finalmente havíamos fechado esse capítulo da novela.

A falta de inflação no mundo e os riscos globais que nos assombravam em 2019, finalmente, haviam perdido força no mercado e já pertenciam aos livros de história.

O BC americano cortava juros para fortalecer a economia e o reflexo era amplamente visto na bolsa norte-americana, esta que ascendia freneticamente.

A bolsa brasileira também não ficava atrás. Os recordes de alta do Ibovespa eram tantos que você mal comemorava.

O fato é que ficamos mal-acostumados com esse ritmo.

E, até então, vínhamos em uma boa velocidade, mas acabamos sendo atropelados e arremessados longe pelo pânico do coronavírus em fevereiro.

Naturalmente, o jogo está longe de acabar. Somente fomos sortudos o suficiente para tirarmos aquela carta ordenando "volte 5 casas” (ou 15 mil pontos).

E, assim como o cidadão do GIF acima, mesmo que mancando, durante a semana voltaremos a caminhar em busca de sinais sobre qual direção o Ibovespa seguirá daqui em diante

É a história desse investidor que gostaria de compartilhar com vocês hoje.

O domingo da ressaca

Tipicamente, o domingo é o prenúncio das segunda-feiras. O dia da semana que todos odeiam.

Nosso caro amigo também, mas amanhã será diferente. Ele aproveitará que as férias da empresa estão vencendo para tirar alguns dias e descer pra baixada santista, seu lar do coração.

No caminho, a estrada parece tranquila. Ele liga o rádio e todas as estações, insistentemente, falam sobre os casos crescentes do coronavírus e como isso irá atrapalhar o comércio mundial.

[Fonte: Johns Hopkins CSSE]

Na chegada a gloriosa Santos, também terra do nosso colega Ian Franco, ele aproveita um pouco a cidade. Descansa, desfruta um pouco do sol e das praias, sai para os bares da cidade etc..

Mas, depois de horas escutando no rádio sobre os riscos para o PIB mundial, aquelas palavras do comentarista não saiam da cabeça.

Assim, cansado de remoer aquelas frases, ele decide que precisava ver com os próprios olhos. Antes de voltar para a terra da garoa, ele resolve dar uma passadinha no porto de Santos para averiguar o ritmo de chegada dos barcos.

A ideia dele era simples: cargueiros cheios seriam sinônimos de que o comércio mundial está saudável e vice-versa.

Chegando lá, ele avista diversos navios chegando e alguns atracados. Em meio a todos eles, existem um ou dois cheios de mercadorias, mas não é a maioria.

Na cabeça dele não importava os que estavam lotados de produtos.Tudo em que ele conseguia focar eram nos navios que estavam relativamente mais vazios.

E, nesse momento, foi como 2+2 = 4. Foi um clique. Ele percebia que a economia de fato enfrentava problemas e voltou a São Paulo decidido a vender toda a sua posição em bolsa.

Foi então que ele pegou a estrada…

A segunda do otimismo

No caminho de volta, resolveu ligar o rádio novamente para escutar as notícias e como estavam as perspectivas do vírus.

A preocupação era de que a situação estivesse pior e de que o mercado pudesse derreter no seu caminho a São Paulo.

Sem surpresas, os apresentadores ainda falavam sobre o assunto. Porém, durante o intervalo, um economista aproveitou o momento para falar do fluxo nas estradas.

Dizia que as estradas estavam cheias, tanto pensando no fluxo de veículos leves quanto nos pesados.

Argumentava que o ritmo havia aumentado muito desde o ano passado e que esse era um sinal tangível de que a economia brasileira vinha melhorando.

                                        [Fonte: ABCR]

Por fim, complementou ainda dizendo: “nesse passo, em breve retornaremos aos patamares pré-crise dos últimos anos. Uma maravilha!”.

Nosso investidor não deu muita bola aos comentários, até porque ele vinha pela Imigrantes e a estrada seguia tranquila.

Até que ele parou no pedágio.

E, para a sua surpresa, por todos os lados havia filas longas e cheias de carros. Ele olhava incrédulo, mal podia acreditar no que via. Parecia um verdadeiro mar de carros à sua frente.

Logo, voltou-se ao otimismo. O sonho do Ibovespa 150 mil pontos tomava conta do seu subconsciente e, pouco antes de chegar a São Paulo, ele já se via querendo aportar mais recursos em ações.

Afinal, se estamos crescendo, a bolsa é para cima não é mesmo?

Até que veio a terça-feira…

A terça do desespero

Estava na hora de voltar ao trabalho, até porque tudo que é bom dura pouco, não é mesmo?

Ele chegou cedo no escritório, feliz e contente. Aproveitaria o horário do almoço para compartilhar com seus amigos traders que o medo do coronavírus era uma bobagem, porque aqui a economia ia bem.

Até que, quando ele se levanta da cadeira para chamar seus colegas para almoçar, o celular apita e a mensagem é: Banco Central americano corta juros em 0,5p.p em decisão extraordinária.

Sem entender muito, vai correndo até a mesa de seus parceiros para saber se eles possuem novas informações.

Todos estão de pé, atentos a um monitor onde o presidente da entidade americana profere seu discurso e justifica o movimento na taxa básica.

Em resumo, a decisão foi feita com base no medo de que os efeitos das paralisações das fábricas na China e na reclusão do consumo mundial possam ter sobre o crescimento da economia americana.

Novamente, ele não deu muita bola para tudo o que escutava. Achava tudo aquilo um exagero e, que mesmo com a bolsa caindo, era uma oportunidade para se adquirir novas ações.

E, no momento em que ele abria o home broker para fazer os novos aportes, recebeu um e-mail com um estudo de seu amigo trader.

O artigo mostrava empiricamente que, olhando os últimos 20 anos de atuação do Fed, sempre que foi feita uma reunião extraordinária pelo comitê o passo seguinte era uma recessão.

Fonte: Bloomberg

Fonte: Bloomberg

Para piorar a história, em quatro dos cinco eventos onde isso aconteceu foram momentos onde o BC americano cortou 0,5 p.p para tentar conter a crise que se alastrava.

Foi assim em 2001 com a bolha do ponto com. Foi assim em 2008 na maior crise financeira desde 1929.

E, para ele, seria assim agora.

Logo, o desespero acabou com o seu apetite. Abandonou seu almoço para utilizar o tempo a fim de tentar ler o máximo de notícias em que ele conseguia colocar as mãos e tomar uma decisão.

Fez isso durante toda a tarde, mesmo sabendo que tinha afazeres do trabalho para concluir. Evidentemente, mesmo lendo dezenas de páginas, não chegou a lugar nenhum

Decidiu ir para casa. Era hora de descansar a fim de clarear um pouco a cabeça e chegar a uma sentença final pela manhã seguinte.

E, por mais que tentasse cochilar, o sono não vinha. Rodava de um lado para o outro da cama, sem sucesso algum.

E, quando menos esperava, o sol já raiava no céu e com ele dava início a quarta-feira.

Quarta-feira da esperança

Por não conseguir pregar o olho à noite, resolveu ir mais cedo para o escritório. A ideia era continuar a jornada em torno de decidir se comprava ou vendia bolsa.

Chegou no trabalho, abriu o seu notebook e logo percebeu que às 6h30 da manhã havia chegado um e-mail de sua corretora.

Era um outro estudo, só que dessa vez diferente. O assunto do e-mail era: um fio de esperança no ano eleitoral.

O artigo discorria sobre como não deveríamos temer o cenário internacional, até porque os dados mostravam que em ano de eleições as bolsas americanas e brasileiras tendiam a ir bem.

Logo nas primeiras linhas, o artigo afirmava: “se olharmos os últimos 24 anos de dados, é notável que os de eleição americana foram positivos para a bolsa brasileira”.

                                [Fonte: Bloomberg e Nord Research]

Os dados eram inquestionáveis. Com exceção de 2008, a maior perda do índice brasileiro foi de 10 por cento em 2000.

Do outro lado, nós tivemos duas altas entre 5 e 10 por cento e outras duas acima de 40 por cento.

Se considerarmos anos de releição como foi o de Clinton em 1996, do Bush em 2004, de Obama em 2012 e parece ser o caso do Trump em 2020 —,em 100 por cento das vezes a bolsa subiu.

Era matemático e, de novo, tudo ficou mais claro, como 2+2 são 4.

E, novamente, alegre ele foi contar aos seus colegas a razão do seu otimismo.

É quinta-feira e está na hora de esquecer tudo isso…

Talvez você não tenha percebido, mas nosso investidor sofre de um sério problema: o confirmation bias.

Confirmation bias é a ideia de que você favorece informações que confirmem uma teoria sua.

E, perceba, o tempo todo ele está procurando informações que corroborem sua tese inicial.

Ele encontra isso no conforto dos dados, onde ele tem alguma falsa esperança de certeza e reafirmação do que já teoriza.

Mas, em todo o processo, esquece dos exemplos contrários.

Ignora os navios cheios, pois de acordo com a teoria, o coronavírus destruirá o comércio global.

Esquece das vezes que o Fed cortou 0,5p.p sem ter crise.

E, isso não é exclusividade dele. São gigantescas as chances de você sofrer do mesmo mal. Quando a bolsa aqui sobe de forma desenfreada, você dá muito mais peso as teorias otimistas do que as pessimistas.

Quando está pessimista, tende a focar nos elementos que se alinham a sua tese destrutiva.

Cuidado. Nem toda fumaça é fogo e nem toda luz no fim do túnel é a linha de chegada.

Mas, de qualquer forma, eu entendo. Neste momento onde o mercado decide se acredita na recessão ou na volta do bull market, é natural querer procurar sinais ou pistas de qual é a direção mais provável.

Contudo, você está querendo fazer investimentos da maneira difícil e que, provavelmente, vai lhe render menos cabelo e dinheiro.

Pessoalmente, eu tenho um plano diferente: investir sabendo que eu NÃO SEI da direção.

E, para fazer isso, você precisa procurar boas empresas.

Sim, aquelas companhias que possuem um belo modelo de negócio, alta rentabilidade, pouco alavancadas etc.

Agora, combine isso com comprá-las na bolsa ao preço certo.

Esse é o jeito fácil e é exatamente isso que o Bruce e o Ricardo estão fazendo nas suas respectivas séries Investidor de Valore Small Caps.

Fazendo isso, as chances são bem maiores de você ter cabelo e dinheiro daqui a alguns anos.

Um abraço

Luiz

Postado originalmente por: Nord Research