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Finanças: A queda em perspectiva

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Será que essa queda toda faz sentido?

A queda é muito rápida

A tríade: pandemia do coronavírus, efeitos do conflito entre sauditas e russos no preço do petróleo e o desalinhamento entre os poderes do Estado brasileiro, tem surtido um efeito avassalador nos mercados financeiros.

Sem a atuação do Banco Central no mercado de câmbio, ontem o dólar finalmente chegou lá. Pela primeira vez na história, a moeda americana fechou acima da emblemática barreira dos 5 reais.

Com direito a mais um circuit breaker (o 5º no ano), o Ibovespa fechou em 71 mil pontos e voltou a negociar em um patamar próximo ao que estava no pior momento de 2018, durante a greve dos caminhoneiros.

Com a queda de quase -14 por cento de ontem, o IBOV acumulou uma desvalorização de mais de -40 por cento em um curtíssimo espaço de tempo  pouco mais de um mês e meio.

IBOV. Fonte: Bloomberg.

Quando olhamos para o nosso índice em dólar, a queda desde a máxima já supera os -50 por cento.

IBOV em dólar. Fonte: Bloomberg.

A queda é absurda

Greve dos caminhoneiros ou Joesley Day não foram nada perto do que está acontecendo agora. Precisamos voltar até a crise do subprime americano, em 2008, para chegarmos no último exemplo de quedas desta magnitude.

Nesta ocasião, nossa bolsa caiu -60 por cento… porém, isto aconteceu em um período de mais de 5 meses. Colocando em perspectiva, a queda atual é absurda.

Comparando a catástrofe econômica que ocorreu em 2008 com o que está acontecendo agora (efeitos apenas no curto prazo), a queda atual fica ainda mais absurda.

Não estou afirmando que o que está acontecendo agora não é realmente grave, mas a intensidade e magnitude do que estamos acompanhando na bolsa estão totalmente descorrelacionados com os respectivos efeitos nos resultados das nossas empresas.

Bolsas em dólar: Brasil (branco), Itália (verde), Hong Kong (rosa), China (vermelho) e EUA (laranja). Fonte: Bloomberg.

O que justificaria nossa bolsa cair muito mais do que as bolsas da China, Itália ou EUA  locais onde o coronavírus é um problema muito mais grave?

Absolutamente nada!

A queda não se justifica

Me sinto quase que na obrigação ética de dizer que estamos diante de uma das maiores oportunidades de ganhar dinheiro de nossas vidas.

Os resultados das empresas até podem ser 20 ou 30 por cento piores do que os esperados previamente para este ano. Mas, definitivamente, não cairão pela metade para sempre.

A tabela a seguir contém (por setor) as maiores quedas, o P/L, P/VP e ROE atual das empresas e o crescimento de seus lucro e do Ebitda nos últimos 12 meses.

Colunas (da esquerda para a direita): Setor, retorno total entre 21-02 e 16-03, P/L, P/VP, ROE, Crescimento dos lucros nos últimos 12m, Crescimento do Ebitda nos últimos 12m. Fonte: Bloomberg.

A classificação das empresas segue o padrão da Bloomberg (BICS) e a tabela completa (lista por empresa) pode acessada aqui.

Mas vamos a algumas breves considerações acerca de pontos que chamam a atenção:

  • As empresas da nossa bolsa negociando a míseros 11,4x lucros, enquanto cresceram seus lucros em 20 por cento nos últimos 12 meses;
  • A queda média de 40 por cento no setor de consumo discricionário é completamente fora da realidade. É aceitável que GOLL4, AZUL4, CVCB4 e SHOW3 liderem as perdas, mas ter empresas como AMAR3, VVAR3, RAPT4, COGN3, LCAM3 logo na sequência, não faz muito sentido;
  • As empresas de tecnologia, como TOTS3, SQIA3 e LINX3, eram (e continuam sendo) as mais caras da bolsa. Quem tem mais expectativas embutidas nos seus preços, costuma cair mais em mercado em baixa;
  • As quedas no setor de energia (óleo e gás), seriam justificáveis, se não fossem tão exageradas, principalmente as de PRIO3 (-68 por cento) e PETR3 (-57 por cento);
  • Algumas empresas do setor de healthcare podem se prejudicar, como SULA3 ou GNDI3, mas outras podem até se beneficiar e crescer receita com o coronavírus, como AALR3, FLRY3 ou HYPE3;
  • O setor de utilities é de fato o que tem seus resultados menos afetados pela problemática atual e foi o que menos caiu, mesmo assim, algumas ações apresentaram quedas expressivas, tais como CMIG3 (-42 por cento), LIGT3 (-41 por cento) ou ELET6 (-38 por cento).

Várias outras conclusões podem ser tiradas analisando estas informações no detalhe, mas meu objetivo hoje, neste espaço, não é falar sobre oportunidades específicas.

Ao ampliarmos um pouco nossa visão, também temos motivos para enxergar o momento como grande oportunidade.

Quando comparamos a situação de nosso país com resto do mundo, não podemos nos esquecer que o Brasil goza de uma dinâmica própria no momento, bem diferente daquela observada nas demais grandes economias ao redor do globo.

Enquanto elas viviam uma desaceleração sincronizada, que foi impulsionada pelo coronavírus, nós estávamos apenas começando a alçar o nosso voo.

O segundo semestre de 2019 foi o melhor segundo semestre desde 2013. O Brasil já estava crescendo 1,7 por cento no último trimestre de 2020.

Nosso crescimento pode até ser postergado por um ou dois trimestres, mas é possível que ainda neste ano nosso país retome o caminho que já estava começando a trilhar.

Tamanha queda não está nem um pouco embasada na perspectiva de deterioração dos resultados das empresas ou do crescimento econômico brasileiro.

O pânico não se justifica

Nos EUA o FED cortou os juros para próximo de zero e anunciou a injeção de 700 bilhões de dólares na economia. As medidas são drásticas, podem ter assustado o mercado, mas quanto mais rápida a reação, menores os danos à economia.

Por aqui, as primeiras medidas para contenção de danos também estão sendo tomadas.

Nosso Banco Central afrouxou as regras para concessão de crédito por parte dos bancos e, no mesmo dia, a Febraban já anunciou que os 5 principais bancos brasileiros irão prorrogar os vencimentos das dívidas de pessoas físicas, micro e pequenas empresas adimplentes por 60 dias.

O ministro Paulo Guedes anunciou a realocação de 83 bilhões de reais para população mais vulnerável, de 59 bilhões para manutenção dos empregos e de 5 bilhões para conter a epidemia diretamente.

Os 147 bilhões serão destinados a medidas como a antecipação de recursos a aposentados e pensionistas, transferência de recursos ao FGTS  para permitir novos saques , reforços ao Bolsa Família, diferimento do pagamento de impostos para as empresas, crédito a MPEs, facilitação a importação de insumos e matérias primas etc..

Além disso, o ministro quer acelerar a aprovação de medidas estruturantes como o Pacto Federativo (que transfere poder aos Estados e Municípios, reduzindo a influência da União), a PL da Eletrobrás (que permite a privatização da companhia e pode levantar 16 bilhões de reais para os cofres públicos) e o Plano Mansueto (que permite a renegociação das dívidas dos estados).

Existe uma preocupação em relação a saúde dos políticos no caso de realização de sessões com grande quorum no plenário, mas no mundo digital e conectado de hoje, as pautas só seriam seguradas por desinteresse ou falta de responsabilidade dos mesmos.

É possível que, ainda hoje, saia um pacote de auxílio para as companhias aéreas (que estão reduzindo suas capacidades entre 50 e 70 por cento, como medida emergencial) ou que em 48h o governo anuncie novas medidas estimulantes abrangentes.

Na China, hospitais dedicados ao coronavírus já estão sendo fechados por falta de novos casos. Existem grandes avanços sendo feitos no tratamento do vírus, desenvolvimento de testes mais rápidos e de vacinas ao redor do globo.

As redes sociais até podem alastrar um sentimento de pânico, mas também são um meio rápido e eficiente de conscientização e disseminação de práticas de prevenção ao contágio.

Enfim, a verdade é que estamos cada dia mais próximos de conter a expansão do vírus pelo mundo. Durante o processo, uma parte do consumo será sim perdida, mas a grande maioria será apenas represada e compensada após a tempestade.

O petróleo voltou ao patamar dos 30 dólares, mas não deve se manter aí por muito tempo. Aumentar a produção de óleo ao máximo, enquanto na outra ponta, há uma queda de demanda, simplesmente não é sustentável.

Principalmente quando as economias dos países envolvidos no conflito são altamente dependentes do setor. Como já aconteceu no passado, a disputa de forças e poder não deve se estender por mais do que alguns meses.

E toda esta confusão ainda pode ser um catalisador para a aceleração da aprovação de medidas que vão fortalecer as bases do Brasil. Permitindo que o crescimento, quando retomado, seja ainda mais duradouro.

Além de tudo isto, a pressão desinflacionária consequente de toda esta conjuntura ainda abre espaço para que os juros sejam reduzidos na reunião de hoje e amanhã do Copom. Isto até não tem muito estímulo no curto prazo em uma situação como esta, mas nos deixa em condições melhores ainda para crescer após o furacão.

Faz 12 anos que a última oportunidade de ganhar dinheiro assim ocorreu. A próxima pode demorar mais de uma década para voltar a acontecer.

A alta volatilidade ainda deve ser uma constante no mercados no curto prazo.

Mas para quem tem paciência, disciplina e foco no longo prazo, momentos como este se refletem em oportunidades únicas.

O Investidor de Valor e o Anti-Trader sabem disso e vem passando para seus assinantes a serenidade que o momento exige.

Além disto, ainda estão aproveitando as melhores oportunidades que foram abertas com esta queda injustificada.

Não fique de fora.

Compre muita bolsa.

Abraço,

Rafael Ragazi

Em observância ao Artigo 22 da Instrução CVM nº 598/2018, a Nord Research esclarece que oferece produtos contendo recomendações de investimento pautadas por diferentes estratégias e/ou elaborados por diferentes Analistas. Dessa forma, é possível que um mesmo valor mobiliário encontre recomendações distintas em diferentes produtos por nós oferecidos. As indicações do presente Relatório de Análise, portanto, devem ser sempre consideradas no contexto da estratégia que o norteia.

Postado originalmente por: Nord Research