A pressão do governo federal pela volta dos jogos de futebol e a sugestão da CBF do dia 17 de maio como data para o reinício dos campeonatos encontram resistência entre autoridades estaduais – do futebol e da saúde. Com a pandemia do novo coronavírus espalhada pelo Brasil, ainda sem chegar ao pico, tudo indica que não será possível tirar tão cedo do papel ou do discurso essas ideias de retorno aos gramados.
Houve consulta as 27 federações e as 27 secretarias estaduais de saúde. As respostas variam em alguns aspectos, mas todas apresentam um ponto em comum: nenhum estado é capaz de garantir a realização de um jogo, mesmo sem torcida, na data mencionada pela CBF durante reunião com federações e clubes na semana passada. A maioria é contra estipular uma data para a volta do futebol.
O caráter difuso da propagação do novo coronavírus, os diferentes efeitos em cada região do Brasil e a maneira distinta como cada estado reage tornam praticamente impossível estruturar uma resposta uniforme ao problema. Ao contrário: a confusão só colabora para adiar cada vez mais as tomadas de decisão.
Neste fim de semana, dos dias 2 e 3 de maio, deveria começar o Campeonato Brasileiro. A CBF e as federações acertaram que os estaduais têm que terminar antes – justamente por serem torneios que demandam deslocamentos menores e praticamente não exigem viagens de avião.
Na noite da última quinta-feira, foi uma carta enviada pelo Ministério da Saúde aos clubes e à CBF. Tratava-se de uma resposta a um pedido da confederação para o ministério avaliar um protocolo médico para a volta das atividades. O documento do ministério deixa claro, em sua conclusão, que apoia a volta do futebol.
“Reconhecendo que o futebol é uma atividade esportiva relevante no contexto brasileiro e que sua retomada pode contribuir para as medidas de redução do deslocamento social através da teletransmissão dos jogos para domicílio, este Ministério da Saúde é favorável ao retorno das atividades do futebol brasileiro, desde que atendidas todas as medidas apresentadas neste parecer”.
Em outros trechos do documento, porém, o ministério faz ressalvas e afirma que não pode tomar essa decisão – que cabe a estados e municípios. E são justamente estados e municípios os entes que mais resistem a tomar qualquer medida que possa acelerar a volta do futebol.
Após a resposta positiva com ressalvas do ministério, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, afirmou que a entidade consultou médicos e orientou o retorno das atividades mais no sentido de preparar o ambiente para quando houver possibilidade de voltar aos jogos do que propriamente estabelecer uma data para o reinício dos estaduais.
“Nesse momento, a retomada se dá em termos de treinamento. E nós acreditamos que, se treinarmos a partir do começo de maio, após 15 dias os atletas e as comissões técnicas estarão preparados para o retorno às competições. Mas isso vai depender da evolução da epidemia e da dinâmica do próprio processo de treinamento, então é cedo para anunciar qualquer data de retorno das competições estaduais”.
Feldman acrescentou que a expectativa da CBF é completar os campeonatos estaduais e iniciar logo em seguida os nacionais, que podem ser esticados até o início de 2021.
Na última sexta-feira, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, avisou que vai endurecer as medidas de isolamento social. Na véspera, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, afirmou à ESPN que “pensar em futebol agora é coisa de débil mental”. Também na quinta-feira, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, prorrogou as medidas de isolamento social na cidade até 15 de maio.
O virologista Amilcar Tanure, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considera precipitado um possível retorno do futebol no momento em que a pandemia ainda nem alcançou seu pico no Brasil e causa centenas de mortes diariamente.
“Mesmo que joguem em estádios vazios, eles vão ter que treinar, ir a vestiários, tomar banho… Tudo isso aumenta a chance da transmissão do vírus. Minha pergunta é: por que expor esse pessoal ao risco de se contaminar e alguns terem casos graves da doença? Será que não era melhor esperar um pouquinho? Acho a ideia muito arriscada” – disse Tanure.
O estado de São Paulo teve o primeiro caso confirmado, a primeira morte e concentra o maior número de infectados. O governo estadual decretou medidas de isolamento social até o dia 10 de maio, domingo que vem. O governador João Dória vai anunciar os passos seguintes na próxima sexta-feira (dia 8). Mas a escalada no número de mortes e a situação específica da capital tornam ainda mais difícil fazer previsões sobre a volta do futebol.
Nesta segunda-feira (4 de maio), a Federação Paulista de Futebol, os clubes e o infectologista David Uip vão voltar a se reunir por videoconferência para tentar elaborar um protocolo de medidas de segurança sanitária para a volta aos treinos. Em reuniões prévias com médicos dos clubes, Uip deu dois recados que desencorajaram os dirigentes mais esperançosos com uma volta rápida das competições em São Paulo.
1) Testes disponíveis não são confiáveis
Foi praticamente derrubada a ideia de formar uma “bolha do futebol”, testar todos os envolvidos na realização das partidas e, mediante os resultados negativos, apressar a realização de jogos. Simplesmente porque os testes disponíveis ou não são confiáveis ou não geram resultados na velocidade que o futebol exige.
2) O vírus vai se espalhar pelo interior
A capital São Paulo é a cidade mais afetada pela pandemia, concentra o maior número de infectados e mortos. Mas as estimativas do governo estadual indicam que o vírus vai rapidamente se espalhar pelo interior, que não conta com rede hospitalar tão grande quanto a da capital.
Esses dois alertas serviram para derrubar os planos de levar todos os times para uma cidade do interior e lá terminar as seis rodadas que faltam para o Campeonato Paulista da Série A1 – duas da fase de grupos e mais quatro da fase mata-mata.
Em São Paulo, os quatro clubes grandes dizem estar em sintonia: a ideia de Santos, Palmeiras, Corinthians e São Paulo, segundo dirigentes, é adiantar o que for possível agora para estarem todos prontos quando for possível voltar. O que não querem, dizem, é ser surpreendidos com uma decisão e depois perder tempo para se adaptar a ela.
Já no Rio, por exemplo, Flamengo e Vasco têm mais pressa para voltar, enquanto Fluminense e Botafogo são mais cautelosos. Essas discordâncias entre clubes aparecem também em outros estados.
No meio do futebol, ainda são poucos os que criticam publicamente a posição do presidente Jair Bolsonaro. Mas quem se posiciona o faz de maneira enfática. Como Paulo Autuori, técnico do Botafogo, que declarou o seguinte em entrevista ao Esporte Espetacular:
“Me parece uma sandice falar sobre o retorno das equipes de futebol neste momento. Falta de respeito diante de tantas mortes e sofrimentos. Demonstra uma preocupante falta de conhecimento dos responsáveis a favor dessa medida sobre a complexa rotina dos treinamentos de futebol. Ausência de preocupação e de respeito aos profissionais, especialmente daqueles mais sacrificados, que não são jogadores nem membros da comissão técnica. Nós, profissionais, merecemos respeito. Querem futebol de volta? E daí? Lamento.
Ex-presidente do Botafogo e atual membro do comitê gestor do futebol do clube, Carlos Augusto Montenegro está alinhado com Autuori. Em entrevista ao “Canal do TF”, se houver um retorno precipitado aos gramados.
“Se vier pressão de CBF, Ministério da Saúde, Federação para que se iniciem os treinos nessa situação, em que todos os técnicos dizem que pode piorar, o Botafogo não vai jogar. (…) Isso é uma estupidez, cara. “Ah, vai perder ponto”. A gente perde ponto. Cada ponto que a gente perder vai ser uma vida salva”.
Já o presidente do Internacional, Marcelo Medeiros, deu declarações no sentido contrário. Em entrevista para a Rádio Guaíba na sexta-feira, o dirigente afirmou:
“O jogador que não quiser jogar pede demissão. Se for aberta a possibilidade de o futebol voltar, vai cumprir o contrato que assinou”.
Ante a repercussão negativa da declaração, Marcelo Medeiros amenizou o discurso e disse que a volta aos gramados só ocorrerá “se as autoridades autorizarem”. Inter e Grêmio são os primeiros clubes a voltar aos treinos, o que deve acontecer nesta segunda-feira, já que a prefeitura de Porto Alegre autorizou.
Na semana passada, quando terminou o período de férias coletivas concedido pela maioria dos clubes e federações, teve início uma onda de demissões e cortes de salário que atingiu até os clubes mais bem estruturados financeiramente, como Flamengo e Palmeiras.
Por isso mesmo há muita gente no meio que não vê a hora de a bola voltar a rolar. Pelos mais diversos motivos – sobretudo financeiros – há uma grande quantidade de jogadores, treinadores e funcionários de clubes e federações interessados na volta imediata dos jogos e das competições.
Entre os jogadores de clubes menores, com calendário ameaçado pelo risco de os estaduais não serem concluídos, a ideia de voltar aos treinos e jogos tem mais apoio. Na outra ponta, sobretudo entre atletas com passagens recentes pela Europa, é mais comum a defesa do adiamento dos treinos e jogos.
A Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol) não tem posição sobre a retomada do futebol.
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Fonte: Glogoesporte.com
No blog do Leo Lasmar você ficará por dentro do que está acontecendo no futebol brasileiro e do mundo, principalmente dos times mineiros: Atlético e Cruzeiro, sem esquecer, claro, do nosso Guarani de Divinópolis.