fbpx
Pular para o conteúdo

Esquerda, direita ou China?

Por João Cenzi

Quem vencerá essa queda de braço que há anos vem dividindo o Brasil: Direita ou Esquerda?

Até 2014 a Esquerda estava soberana. Era politicamente incorreto alguém mostrar-se posicionado no lado oposto. Ser tachado de Liberal era quase uma condenação política, e o “nós contra eles” imperava.

Com todas as movimentações populares, que tiveram seu início ainda em 2013, paulatinamente os direitistas foram saindo do armário, e as teses economicamente liberais e socialmente conservadores foram ganhando força, até eleger Bolsonaro, tido, incorretamente, como de extrema-direita.

Mas a divisão do país continuou a se acirrar. Com teses de perseguição política e grande imprensa altamente tendente às causas esquerdistas, cada piada proferida pelo presidente ganha, nas redes sociais e na grande mídia, manchetes alarmistas.

Farto das perguntas capciosas dos jornalistas, bastou que Bolsonaro sugerisse a um deles que fizesse cocô dia sim, dia não, para que só faltassem manchetes alegando que o presidente é autoritário e ditatorial por ser a favor da prisão de ventre.

Em escutas legais de investigações da PF um líder do crime organizado é flagrado maldizendo Moro por apertar o cerco contra seus escusos negócios e se mostra saudoso dos tempos do PT no Poder, que lhe eram mais amenos. Pronto. A tese ganha força. Para a Direita é prova incontestável de que o PT é uma quadrilha, não um partido. Para a Esquerda, foi mais uma escabrosa e criminosa armação de Moro para perseguir o partido e, principalmente, seu deus mais honesto do mundo.

Do lado da Direita, basta que alguém do governo contrarie o presidente, por exemplo mostrando que o desmatamento da Amazônia ainda é preocupante, para que seja fritado até ser degolado. Notórios torturadores são aclamados como heróis nacionais por ter torturado apenas esquerdistas.

Seja lá qual for o lado que ganhar essa guerra, ou mesmo que não haja um vencedor incontestável, o nosso país só tem a perder com essa divisão. E, para alegria da Esquerda, uso o caso da China para propor uma saída honrosa para ambos os lados e salutar para o país.

A China, apesar de ter extensão continental e uma população imensa, era alvo fácil de ataques vindos do minúsculo Japão. A grande maioria da população chegava a extremos de fome a ponto de transformar gafanhotos e escorpiões em apreciadas guloseimas. Mas veio Mao Tse-tung e transformou o país em uma terrível ditadura comunista. Quem passasse fome e comentasse sobre esse fato, podia ser até morto. Acabou a fome por decreto, embora camponeses morressem às pencas por desnutrição. No entanto, a China já não mais era presa fácil para ninguém.

Mais tarde assumiu a secretaria-geral do PCC (Partido Comunista Chinês, e não o nosso PCC) alguém chamado Deng Xiaoping, que introduziu inusitadas reformas econômicas para um regime comunista. Abriu algumas partes do país, principalmente na costa Leste, ao mais pernicioso capitalismo possível, alimentando a ganância desenfreada das indústrias de todo o mundo com mão-de-obra quase escrava, a soldo miserável.

Assim, com a trilha aberta por esses dois líderes, a China somou dois infernos: um regime totalitário, que controla a política e a população com mão-de-ferro e não suporta liberdade de palavra ou pensamento, com um capitalismo desenfreadamente predador e opressor, que se vale do trabalho de quase-escravos para alimentar os lucros dos gananciosos patrões investidores.

Não podia dar outra!!! Resultado dessa lambança: o país passou a crescer cerca de 10% ao ano, estendendo esse crescimento por um longo período, até se transformar na segunda maior economia do mundo, atrás só dos EUA.

Com o tempo a expertise acumulada pelos funcionários chineses dessas empresas estrangeiras deu origem a empresas nacionais que começaram a produzir cópias dos produtos a custos de banana podre, inundando o mundo com artigos de quinta, mas com preços inacreditavelmente baixos. Aos poucos algumas dessas novas empresas se aperfeiçoaram e já produzem qualidade, mas ainda com preços reduzidos em relação aos seus similares estrangeiros. Até os salários de fome dos funcionários chineses de empresas estrangeiras já rarearam, sem contar a produtividade dos operários, que decolou, além de sua capacitação profissional.

Em 2013 Xi Jinping assumiu o leme chinês com a meta de eliminar a miséria no país até 2020. E considere-se que não significa tirar apenas 30 milhões de pessoas da pobreza,com diz ter feito Lula,  pois em uma população de quase 1,4 bilhão de pessoas, haja miseráveis!

Assim, uma política que juntou no mesmo balaio um regime ditatorial sem direitos individuais, centralização do Poder e controle absoluto da Economia, inclusive de preços internos, partido único que é tratado quase como religião obrigatória, capitalismo predador desenfreado, exploração extremada da mão-de-obra e completa liberalidade de investimentos, está conseguindo fazer enorme diferença, para melhor, na vida de sua imensa população.

Ficaram satisfeitos, esquerdistas? E vocês, direitistas?

Se a China conseguiu essa proeza aplicando algumas das piores e mais nefastas características dos dois extremos ideológicos, será que nós aqui no Brasil, que estamos exatamente no momento mais propício para estabelecer um verdadeiro divisor de águas em nossa condução, não conseguiríamos inverter o sinal da equação chinesa e unir algumas das melhores virtudes das duas correntes em um caminho de desenvolvimento e mais conforto para uma população seis vezes menor, porém com um território quase tão grande e sabidamente mais rico?

Qual lei natural nos impede de ter um liberalismo econômico com preservação racional do meio-ambiente? Porque nos seria impossível termos indústrias competentes, de alta produtividade, com remuneração adequada a seus funcionários e uma excelente proteção social a quem necessitar? Quem, afinal, já determinou cientificamente que os direitistas são mais inteligentes ou capazes que os esquerdistas, ou vice-versa?

O presidente é tosco e idolatra torturadores? E daí? Desde que ele não queira implantar um regime ditatorial e torturador, que fique com suas ideais distorcidas para si próprio! O que me importa é se ele realmente empossa ministros competentes, e os blinda para que desenvolvam eficientemente suas funções e façam o país andar para a frente.

Que mal pode existir em incentivar o empreendedorismo, desburocratizar e desregulamentar de modo a facilitar a implantação e operação de novos, e mesmo antigos, empreendimentos que se pautem pela competitividade e remunerem seus funcionários por um sistema de meritocracia, e não por similaridade de cargo?

Se nossos direitistas e esquerdistas se dispusessem a discutir seriamente as possibilidades, ao invés de ficar apenas citando ideologias e utopias, além da agressiva animosidade ante os contrários, certamente poderíamos obter o que na China é chamado de “Caminho Amarelo”, ou “Caminho do Meio” (o amarelo é a cor central do arco-íris), e não teríamos mais aqui algo tão nefasto como nosso chamado “Centrão”, que somente olha para seu próprio umbigo.

Fica aí minha proposta para que todos os Idealistas, de todos os naipes, criem canais para uma discussão racional, séria e sem paixões ideológicas nesses termos.

João Batista Cenzi
João Batista Cenzi é engenheiro mecânico, administrador de empresas e, atualmente, diretor da Instituto Pesquisas de Opinião Censuk. É comentarista constantemente convidado nas programações da TV Candidés e da Minas FM.