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Blog do Leo Lasmar – Sem mágoas, mas decepcionado. Resumo de Felipão no Cruzeiro.

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Durou pouco mais de três meses a passagem de Luiz Felipe Scolari pelo Cruzeiro. O treinador, que acertou a rescisão em como acordo nesta segunda feira, chegou com contrato até o fim de 2022, fez o time crescer. Não alcançou o acesso. No entanto, afastou o risco de rebaixamento. E acabou também se desgastando no clube. Mas quais os motivos desse desgaste tão rápido? 

O primeiro capítulo da negociação entre Felipão e Cruzeiro, em outubro do ano passado, teve uma sinalização negativa por parte do treinador. Depois de Umberto Louzer, Lisca e Marcelo Chamusca terem recusado os convites, o clube voltou à carga pelo pentacampeão mundial.

E deu certo. Uma “comitica foi até Porto Alegre negociar com o treinador, que aceitou o convite diante algumas condições. Além do contrato longo, Scolari queria que o clube investisse em contratações e no pagamento dos salários em dia.

Compromisso que o presidente Sérgio Santos Rodrigues assumiu. Pedro Lourenço, patrocinador e principal investidor do clube nos últimos anos, fez uma ligação de vídeo com o treinador, se comprometendo a auxiliar em situações pontuais.

As contratações até que chegaram. O Clube pagou a dívida na Fifa, pôs fim ao “transfer ban” e registrou Giovanni Piccolomo, além de ter buscado Rafael Sobis e William Pottker. Atletas experientes, pretendidos pelo treinador, que sempre deixou calro que julgava o elenco inexperiente demais para uma série B.

O primeiro desgaste aconteceu com uma nova proibição no registro de atletas, com punição da CNRD, por uma dívida com o PSTC, do Paraná referente ao mecanismo de solidariedade na venda do zagueiro Bruno Viana, em 2016. Débito, este, que prejudicou novas possíveis contratações. A dívida, que gira em torno de R$ 1 milhão, ainda não foi paga, mas é tratada como prioridade pela diretoria.

A ação no mercado também desgastou a relação entre Cruzeiro e Felipão. Apesar do conhecimento geral sobre a situação financeira do clube, o treinador pediu nomes como os volantes Júnior Urso e Thiago Santos, além do meia Gustavo Scarpa, do Palmeiras. Situações que geraram descontentamento na diretoria, que considerou os nomes como “fora da realidade”.

Jonathan Copete, atacante do Santos, também foi pedido pelo treinador, mas o Cruzeiro não cehgou a um acordo com o estafe do atleta. A situação incomodou o treinador, que contava com o colombiano para ser opção ofensiva na Série B. Thaciano, do Grêmio, também era pretendido por Felipão. Neste caso, as tratativas entre os clubes não andaram.

A promessa de colocar fim ao “transfer ban” e contratar jogadores experientes foi cumprida, mas a de pagar os salários em dia, não, apesar do compromisso assumido por Pedro Lourenço. Desde novembro (com a folha de outubro), os atrasos são constantes. Não por acaso Jadsom Silva e Zé Eduardo ingressaram com ações na Justiça para solicitar a rescisão indireta do contrato.

A falta de pagamento e também de satisfação da direção incomodavam Felipão que defendia os jogadores nesta situação desde o início. Os atrasos, inclusive, foram estopim para o treinador decidir que não ficaria no Cruzeiro. Quando as dívidas superaram um mês, Scolari já considerou que a situação beirava o insustentável.

Antes do jogo contra o Oeste,em protesto pelos atrasos, os jogadores decidiram não se concentrar. Decisão apoiada pelo treinador. Felipão, depois da derrota para o lanterna, tratou a ocasião como uma “forma de diálogo com a diretoria”. Internamente, a direção considerava que era uma situação que poderia ter sido contornada pelo treinador, em vez de ter sido apoiada por ele.

No dia seguinte, o presidente conversou com os jogadores e amenizou o clima. Um pequeno valor dos salários foi pago, mas grande parte dos vencimentos de outubro para cá – além do 13º – está em atraso. Na última entrevista como técnico, Felipão foi perguntado sobre o que o clube precisaria fazer diferente em 2021 para conseguir o acesso. O pagamento em dia foi citado.

Apesar de toda essa situação, Felipão não deixou o Cruzeiro com mágoas da gestão de Sérgio Rodrigues. Ele entende que os atuais diretores têm boa vontade, mas que esbarram em dificuldades impostas pelo o que foi feito em administrações anteriores.

Pelo lado do clube, o que incomodou o Cruzeiro, pensando no caixa, foi o fechamento exagerado do dia a dia da Toca da Raposa, por parte do treinador. Espelhado em um modelo muito utilizado por clubes europeus, o Cruzeiro aproveitava os vídeos de bastidores para conseguir monetizar, ganhar dinheiro com as marcas de patrocinadores expostas. Felipão vetou a divulgação desses conteúdos.

Felipão chegou com o discurso de livrar o time do rebaixamento, até porque o Cruzeiro era o 19º colocado, com apenas 13 pontos em 16 rodadas, quando ele estreou. O treinador tinha consciência de que o elenco tinha falhas, mas o rendimento encontrado quando assumiu foi aquém do esperado.

Logo depois da vitória na estreia, 1 a 0 sobre o Operário-PR, ainda no vestiário em festa pelo resultado, Felipão teve a primeira conversa com Sérgio Rodrigues, alertando que considerava o elenco fraco, pedindo entre cinco e seis reforços ainda para a Série B. No entanto, chegaram apenas Giovanni, Rafael Sobis e Pottker.

Por conta disso, manteve o discurso contra a queda praticamente até o final, assumindo frustração por não subir apenas na 36ª rodada, quando findou os riscos de rebaixamento, mas também não tinha mais chance de acesso.

A necessidade de reforços apontada pelo treinador seria ainda maior para 2021, diante do que foi apresentado com ele em 2020. Sem possibilidade de investimento e com extrema dificuldade para pagar salários, o Cruzeiro também já não via com maus olhos a saída de Felipão, que se concretizou sem multa, em função do pedido por parte de Scolari.

Até em função da defesa em relação aos salários, os jogadores sempre estiveram ao lado de Felipão. Os mais experientes, principalmente, viram o crescimento da equipe com o treinador. Fábio, inclusive, chegou a dizer que escapar do rebaixamento seria complicado sem a chegada do pentacampeão.

Mas os garotos, muitas vezes, foram criticados por Scolari. A exposição em entrevistas e até mesmo algumas cobranças internas incomodaram atletas jovens. A primeira situação envolveu Cacá. Ele era titular ao lado de Manoel. E assim seria contra a Chapecoense, na 23ª rodada. Já em Chapeco, ele foi comunicado sonre o nascimento do filho, em BH e solicitou liberação para acompanhar a esposa. A direção deu ok, mas Felipão, não. O garoto retornou à capital mineira, ficou fora do jogo e, desde então, só foi titular quando Manoel cumpriu suspensão.

Em campo, situações incomodaram outro dos principais ativos oriundos da base: Matheus Pereira. O garoto, que foi peça importante com Enderson e Ney Franco, ficou no banco no início da trajetória de Felipão (logo depois de voltar de lesão). Quando retomou a titularidade, também foi criticado pelo treinador, internamente e também em entrevistas coletivas.

A primeira forte cobrança foi contra o CSA, quando o gol nasceu de um cruzamento pela direita, feito por Iago. O treinador considerou que Matheus Pereira deveria ter apertado a marcação sobre o volante. Já no vestiário, o garoto foi cobrado, e alguns atletas, inclusive, acharam que de uma forma exagerada. Coincidência ou não, Matheus caiu de rendimento nas mãos de Scolari. No entanto, Adriano e Airton, que também são garotos, cresceram bastante com o treinador.

Nas entrevistas coletivas, Felipão quase sempre citou a baixa média de idade do elenco como um incômodo no Cruzeiro. Garotos se sentiam pouco prestigiados. Além do fato, claro, de que a diretoria considera importante a utilização desses jogadores pensando na venda para levantamento de recursos.

Por Guilherme Macedo e Pedro Rocha – GE