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Blog do Leo Lasmar – Futebol, sonho de muitos, realidade poucos.

Peço licença para transcrever o texto do Presidente do Guarani de Divinópolis, sobre a dura e cruel realidade do futebol brasileiro.

Futebol: O outro lado da moeda

No último mês de 2019 uma consultoria realizada pela Ernst Young, para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), bem feita como o padrão da multinacional, trouxe números que, mais uma vez, mostram a disparidade de ganhos entre aqueles que praticam, em tese, o mesmo esporte. É assustador a proporcionalidade quando comparamos o quanto e para quantos os recursos são distribuídos. Pelo levantamento da Ernst Young, conclui-se que 88% dos atletas registrado na CBF tem salários de acordo com a Consolidação da Leis de Trabalho (CLT) entre R$ 1.000,00 e R$ 5.000,00. Apesar do valor maior de R$ 5.000,00 não ser o mais comum entre os 88% não deixa de ser um significativo salário diante a realidade Brasileira, “para jogar bola ainda” diriam outros.

Quem vive um pouco essa realidade sabe o quão tortuoso é a relação para essa grande maioria de atletas que circulam por clubes menores, disputando competições de menor expressão. O não recebimento em dia até poderia ser o pior desse cenário, mas acredito que mais do que o atraso, a cruel e bem real possibilidade de trabalhar apenas um quarto do ano é o que mais os assombram.

Porém, uma estimativa que esse, e nenhum outro estudo indicará é daqueles que não conseguem ao menos estar dentro dos 88% e esta é muitas das vezes uma realidade devastadora. O número altíssimo dos que tentam, sonham, almejam, em relação aos que conseguem, mesmo sendo impossível de calcular sabe-se que é exageradamente elevado.

Fazendo um relato pessoal, é algo que me deixa sempre sobre uma linha tênue, entre não matar um sonho e ser realista com jovens e adolescentes. Sendo dirigente de clube do interior recebo pedidos quase que diariamente, que ainda imagino ser em demandas menores que os clubes grandes.

No entanto acontecem de forma mais direta devido à facilidade de contato e proximidade que um clube menor tem. Nessas horas enfrento de frente uma realidade perversa, porque primeiro não adianta o garoto ter um diferencial técnico, já que existem inúmeras preposições para o sucesso ou não no futebol, entre elas o imponderável da sorte.

Quantas histórias já ouviram que um jogador X não jogaria aquele jogo e por algum motivo infortúnio acabou jogando e a partir dali, sua carreira tomou outro rumo ou aquele outro que era aposta certa e no momento que deveria “virar” as coisas não aconteceram como planejado.

Não podemos deixar de falar sobre questões de predisposição genética, perfil psicológico, nível de oportunidade por região que mora entre outras dezenas ou até mesmo centenas. Mesmo se todas essas variáveis se convergirem para o positivo ainda terá que fazer muito para chegar no patamar dos que estão além dos 88%.

Mas como explicar isso para um garoto ou mesmo à família, que na maioria das vezes enxergam essa a única forma de ter uma vida melhor e mesmo para aqueles que com certa estrutura e condições melhores para poder traçar outros rumos tem intrínseco acesa a chama desse sonho?

Para alguns nem com passar do tempo diminui este ensejo, já que é comum receber pedidos dos que tem entre 25, 26, 27 anos que mesmo, nunca tendo atuado como profissional dizem estarem em busca dos seus sonhos.

Confesso estar longe de saber como conduzir essa situação. Entusiasta e crente do poder transformador do conhecimento tento direcionar para que sigam outros caminhos ainda que dentro do próprio futebol, apesar de saber que tudo que faz valer para se tornar um atleta de sucesso, também serve para se tornar um profissional do mundo da bola, mas pelo menos nesse percurso conhecem outros horizontes capazes de transformar uma vida além de apenas calçar chuteira e chutar uma bola.

Vinícius Antônio Morais

Presidente do Guarani Esporte Clube