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Blog do Leo Lasmar – E a SAF do Cruzeiro? Será o fim antes do início?

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Ao torcedor, em primeiro lugar, o que importa é o futebol. Em particular quando se trata do cruzeirense, tão machucado nos últimos anos pelo rebaixamento para a Série B e pela dificuldade em se reerguer. A chegada de Ronaldo ao clube é um sopro de esperança. Disso ninguém duvida.

É melhor ter o futebol do Cruzeiro administrado pelo empresário ou pela associação? De um lado, está alguém de reputação internacional e com experiência no mercado do futebol, que propõe recuperar o futebol por meio de gestão profissional e racionalidade. Do outro, estão conselheiros que afundaram o clube não só por incompetência, também após farrearem com o dinheiro do torcedor por anos. A escolha não é difícil.

Ao mesmo tempo, a leitura crítica dos fatos é essencial. Se a instituição foi atirada em crise interminável, uma das razões foi a confiança cega que a opinião pública depositou em quem estava no poder.

O que Ronaldo fez de errado na história? Nada. Ele é um empresário, está adquirindo um clube de futebol no Brasil e tem tudo para fazer bom negócio. Quando o Cruzeiro estiver reorganizado, possivelmente integrado ao Real Valladolid na Espanha, tem tudo para se tornar novamente competitivo e valioso. O projeto faz sentido.

A fragilidade é a promessa de investimentos. Os R$ 50 milhões iniciais são insuficientes para o começo de qualquer conversa. E agora temos clareza de que não existe garantia de que haverá outros R$ 350 milhões. Comparada a outras empresas recém-fundadas, a SAF do Cruzeiro terá trajetória diferente. Esqueçam reforços caríssimos, pelo menos agora.

Convenhamos que, até na questão dos valores, a responsabilidade pela confusão não é de Ronaldo. Nem ele, nem ninguém da equipe falou sobre investimentos. Foi a XP que colocou o número na mesa, numa tentativa amadora de equiparar os projetos de Cruzeiro e Botafogo.

Externamente, a XP acumula equívocos. Eles começaram em dezembro, quando Pedro Mesquita, em sua rede social pessoal, ameaçou deixar o processo de venda do Cruzeiro caso conselheiros não aceitassem a venda de 90% da SAF, em vez de 49%. Chantagem escancarada não combina com a postura institucional da companhia.

Depois, houve a tentativa deliberada de confundir torcida e mercado com a falsa promessa dos R$ 400 milhões. Não, não existe a menor garantia contratual de que esse valor será aportado. Embolar os conceitos de “investimento” e “receita” para fabricar um número é prática nociva.

Internamente, também fica um ponto de interrogação. Embora Pedro Mesquita seja figura frequente nas imagens com Ronaldo – e até “parceiro” dele na proposição de uma liga de clubes, algo que configura evidente conflito de interesses –, a XP foi contratada pelo Cruzeiro. Ponto.

Como é que a negociação chegou a esses termos? Vejamos: a associação precisará vender seus imóveis e terá de lidar sozinha com a dívida, enquanto entregará o futebol para novo proprietário, em um contrato desequilibrado, sem garantia financeira. Como uma assessoria técnica chegou a condições tão ruins para o cliente dela?

A mesma pergunta vale para o Cruzeiro Esporte Clube, a associação. A negociação foi levada adiante sem a menor transparência em relação a torcedores e associados. Isto já era público e notório. Agora fica também evidente como a entidade, internamente, não tomou cuidados mínimos.

Em dezembro, não havia plano para pagamento da dívida e não havia promessa relevante de investimento. Havia uma segunda proposta – recusada por Sérgio Rodrigues, por recomendação da XP –, mas ninguém soube dos valores e das condições desta alternativa.

E agora já é tarde. Os termos do contrato assinado são difíceis de reequilibrar, e as novas condições apresentadas por Ronaldo para fechar negócio precisarão ser aprovadas apressadamente, pois, se não forem aceitas, o empresário poderá desfazer o negócio e ir embora.

É difícil vislumbrar um futuro positivo para os envolvidos, caso o desfecho seja a saída de Ronaldo. Assim como, ao acompanhar a história da venda do Cruzeiro, é difícil concluir que ela sirva de exemplo para alguém.

Por Rodrigo Capelo- GE

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